sábado, 5 de março de 2011

Grandes empresas também afundam.

Era uma vez, uma grande rede de farmácias de uma grande e distante cidade de interior, que era forte e poderosa. A rede seguia religiosamente as orientações de um eminente consultor, venerado como um antigo bam-bam no assunto.


Certo dia, fomos contratados para avaliar todo o quadro de pessoas e do negócio em si. Após quase dois meses de rigorosa análise, concluímos e publicamos aos sócios que a mão-de-obra era sofrivelmente despreparada e chegava a maltratar clientes como reação ao modelo administrativo adotado. Mostramos matematicamente que sem as devidas mudanças na gestão e na capacitação dos colaboradores até o nível de atendimento esperado, as ameaças se transformariam em vulnerabilidades à invasão do mercado por empresas mais eficazes.

O consultor de marketing discordou de nossa visão e induziu-os à aquisição de um pacote de espaços na televisão regional para uma propaganda feita com atores de terceira linha. Resultado? Três anos depois, resta uma ou outra lojinha da rede ridiculamente ostentando a antiga e poderosa logomarca – top de marca por anos seguidos! E bem ali, exatamente nos pontos onde situavam suas maiores lojas, brilham as maravilhosas e bem resolvidas centrais de venda do concorrente. Faturam horrores.

Quanto ao consultor, continua vendendo anúncios para outras empresas que pensam que propaganda é a única solução para mazelas estruturais de negócios mal conduzidos. Grandes corporações podem falir. Com frequência ouvimos notícias de uma ou outra. E há aquelas de que nem ouvimos mais falar. Não é estranho que isto aconteça a empresas com escritórios cheios de gênios financeiros, diretores catedráticos – que são até ex-consultores (sic!) – , gerentes que conhecem e resolvem tudo? Tanta gente esperta, mas que não soube predizer o comportamento do mercado e as causas do seu naufrágio!

Parece irônico, não? Todas elas tinham planejamento estratégico com objetivos de curto, médio e longo prazos, programas de RH, marketing de primeiríssima e produtos tecnologicamente atualizados. Suas equipes faziam relatórios, mantinham indicadores de desempenho e promoviam reuniões aparentemente úteis. Por que razão empresas tão bem estruturadas caem na desgraça? Em uma só palavra: soberba. Mas há outras razões: sarcasmo é uma delas. Leviandade é outra.

Muitos dos que resistiram à recente crise estão vendo os pedidos crescerem novamente. A demanda parece aumentar. Depois de tudo o que passaram, começam a acreditar que são deuses. Quando alguém de fora, com um metro de visão além do que se vê internamente sugere algo que agregue valor, os gestores onipotentes tratam logo de contradizê-lo, questionando e tornando a visão insignificante.

O que resulta da soberba nos negócios? E do sarcasmo? O menu de comportamentos é sempre o mesmo: desprezo a clientes, descumprimento de prazos e outros compromissos. Aumento de preços a esmo, desvalorização de representantes, e outros pecados mortais em negócios. Leviandade punível de desgraça.

De fato, a crise financeira de 2008 provavelmente já acabou no Brasil - como muitos, inclusive o governo, querem crer. Mas a crise econômica vai agravar ainda mais – olhem para a Europa e os Estados Unidos. E tem mais uma modesta observação. Existe uma terceira crise por trás de tudo isto: é a crise da competitividade. Observe, e você verá uma constelação de pequenas empresas conseguindo fortalecer suas marcas no ranking de cada segmento. Estas aí estão crescendo, de fato, graças ao atributo agilidade. As grandes, por sua vez, são analíticas demais, lentas, maçantes e convencidas de que estão seguras.

Tem gente - antes insignificante - que aprendeu com a crise lições muito mais eficazes que apenas sobreviver. Aprenderam a fazer parcerias fortes, a investir em canais de vendas, a intensificar relacionamento com clientes e a oferecer serviços confiáveis. Cuidaram da qualidade e estão construindo uma imagem honrada perante o mercado enquanto grandes riem e confiam numa garantia inexistente.

Calma, e você verá quem ri por último! Os dias de hoje requerem grandeza de atitudes, e não de quantidade, volume ou números. Muitos grandes estão afundando. Quanto a você, opte por estar entre os melhores. E não entre os maiores.

TEXTO DE: Abraham Shapiro (Consultor e coach de líderes - shapiro@shapiro.com.br )
RETIRADO DE HSM Online - http://www.hsm.com.br/

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