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sábado, 26 de maio de 2012

POST 1692: COMO VIVE O GAÚCHO QUE ACUMULOU UMA FORTUNA DE US$ 2,4 BILHÕES

Ele atravessa os oceanos num jato Gulfstream avaliado em quase R$ 100 milhões, mas já andou no lombo de uma égua baixota carregando uma saca de milho para moer no moinho colonial. Aprecia beber uma Dom Perignon de R$ 800 a garrafa, mas gosta mesmo é da polenta brustolada preparada pela mãe.

Priva com ex-presidentes da República, mas não esquece de quando capinava roças de feijão com a enxada. Passeia em Nova York, mas o umbigo está na bucólica Nova Bassano, na Serra gaúcha, de apenas 8,6 mil moradores.

Assim é o estilo do gaúcho Lirio Albino Parisotto, 58 anos, o 601º homem mais rico do mundo segundo o ranking da Forbes, dono de uma fortuna de US$ 2,4 bilhões. Empreendedor desde criança, quando vendia palha para fechar cigarros de fumo crioulo, é um multiempresário de extremos. Tanto pode calçar legítimos sapatos italianos quanto andar descalço numa plantação de mandioca. Vai da boleia da carroça ao volante de um Porsche Cayenne com a mesma naturalidade.

De tanto ousar entre extremos, Lirio Parisotto conquistou o topo. Aos 18 anos, quando perdeu um Fusca ao apostar em ações, não se desesperou. Mais tarde, já próspero, aplicou milhões na Bolsa, em lances que fariam recuar o mais destemido dos empresários. Foi sem medo do fracasso que se tornou um megainvestidor internacional.

Lirio volta regularmente ao ninho de Nova Bassano, talvez para retemperar as energias, mas hoje cultiva hábitos chiques _ impensáveis para quem já vestiu camisas feitas com tecido de saca de açúcar. Combina jantares com o casal de atores globais e ecoativistas Bruna Lombardi e Carlos Alberto Ricceli.

Degusta vinhos nobres com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Viaja, e muito, nos jatinhos de largas poltronas de couro. Quando está no Brasil, acomoda-se no apartamento de quatro suítes que tem em Manaus. Desfruta a vista do mar no Costão do Santinho, em Florianópolis. Tem outro domicílio em São Paulo.

Mas como definir essa personalidade ao mesmo tempo simples e sofisticada? Amiga de longa data, a psiquiatra Anne Marie o qualifica de "expansivo e otimista", mas também irritável e impulsivo. Enfim, alguém que se submete sempre ao clamor dos instintos.

— Ele é do tipo que entende o mundo de forma racional e ordenada. Extremamente inteligente para conseguir os objetivos, é também extremamente sedutor quando quer — avalia a doutora.

Como é a vida do bilionário
No pátio do hangar de voos executivos do Aeroporto de Congonhas em São Paulo, os preparativos do jato Cessna Sovereign frustram um dos três donos da aeronave, que em breve iria partir para Manaus levando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e outras autoridades para o Fórum Amazonas Sustentável. Não é para menos.

Lirio Albino Parisotto, 58 anos, o 601º homem mais rico do mundo na lista da Revista Forbes, com uma fortuna avaliada em US$ 2,4 bilhões, esperava poder levar o ex-presidente no seu mais novo brinquedo. Um recém-comprado jato Gulfstream, que custa mais de US$ 50 milhões, sem impostos, tem autonomia para voos longos, acomoda 14 pessoas e viaja quase na velocidade do som. Numa conversa com o comandante Wilson Caprio, que pilota para o empresário há sete anos, Lirio ri.

— A Anac não liberou o avião novo — explica o comandante, acostumado a levar passageiros como o ex-presidente dos Estados Unidos Al Gore de carona nos jatos de Lirio Parisotto.

— Os passageiros são sempre de alto nível. Isso é uma grande responsabilidade para im. Mas é muito tranquilo pilotar para o senhor Lirio. Ele é especial, muito amigo, muito família. Uma pessoa engraçada, sempre de bem com a vida. E entende de aviões — conta.

Voar alto sempre foi o objetivo desse gaúcho, filho de agricultores descendentes de italianos, que nasceu no dia 18 de novembro de 1953, a 10 quilômetros da cidade de Nova Bassano, próxima a Caxias do Sul, numa casa sem luz elétrica, na qual a produção agrícola era basicamente de subsistência para o casal e os 11 filhos.

— Ele sempre disse que queria ser alguma coisa na vida. Desde pequeno batalhava muito. E saiu de casa cedo, aos 13 anos foi para um seminário. Depois, foi expulso e não explica por quê. Estudou medicina, se formou, abriu um negócio pequeno que hoje é uma grande empresa, na qual eu sou gerente de engenharia — diz Eloi Parisotto, um dos 10 irmãos.

— O único caso de nepotismo na Videolar — brinca Lirio, ao apresentar o irmão mais novo.

A empresa, hoje um conglomerado de quatro indústrias petroquímicas que produzem CDs, DVDs, discos Blu-Ray e flash drives na zona franca de Manaus, e que logo deve inaugurar uma nova unidade de Bopp (película de polipropileno biorientada ou filmes plásticos de embalagem), com investimento de R$ 500 milhões, além de uma unidade em São Paulo, começou como uma pequena videolocadora em Caxias do Sul.
O mascate virou empresário Ao deixar o seminário, por ser "anarquista", como gosta de dizer, Lirio foi estudar medicina em Brasília. Fazia de tudo para ganhar dinheiro naquela época, início dos anos 1970. Mascateava carros, toca-fitas, relógios, fazia declarações de Imposto de Renda, tudo para pagar os estudos e os livros. Quando um amigo, dono de uma instaladora de som em carros, a Audiolar, passou por dificuldades financeiras, ofereceu a empresa a Lirio, que tocou o negócio em Caxias do Sul, com um sócio. A empresa cresceu, virou Videolar em 1988 e hoje fatura US$ 1,4 bilhão por ano e emprega dois mil funcionários.

— Lirio é uma pessoa com bastante energia. Está sempre bem informado, por isso cobra resultados. Como construiu tudo do nada, passa para nós esse desafio constante — conta o diretor industrial da Videolar, Silas Paulo Varone.

Ao passear pela fábrica, o empresário conversa com os funcionários, brinca bastante e manda pintar as frases de efeito que ouve nas paredes da empresa. Não se furta em comer no refeitório da indústria e ao montar o prato revela suas origens: uma porção bem farta de arroz com feijão e três pedaços de frango.

Quem o vê comendo assim não imagina que, pouco antes de aterrissar em Manaus, Lirio estava servindo champanhe Dom Perignon aos seus convidados ilustres, a bordo do Sovereign, onde foi o único a tirar os sapatos italianos, confortável na posição de dono do luxuoso jatinho, com largas poltronas de couro. Cada Dom Perignon custa cerca de R$ 800 e, na viagem em companhia de Fernando Henrique Cardoso, seu filho Paulo Henrique Cardoso, o ex-ministro do Desenvolvimento Luiz Fernando Furlan, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, o ex-diretor do Banco Central Nelson Carvalho e o presidente de honra da Rede Accor no Brasil Firmin Antonio, foram abertas quatro garrafas. Ou "garafas", como pronuncia Lirio, ainda com o sotaque de colono descendente de italianos.

— O mais curioso no Lirio é que, mesmo depois de enriquecer e de se transformar um empresário poderoso e em um grande investidor, ele nunca esqueceu as origens. Fala com o sotaque da roça, é muito direto e objetivo. Um fofoqueiro de primeira — diz Furlan.

Obsessão por imóveis
Dono da corretora Geração Futuro, com fundos de ações responsáveis pela maior parte do seu patrimônio avaliado em US$ 2,4 bilhões (cerca de R$ 4,3 bilhões), Lirio não começou bem sua carreira como investidor no mercado financeiro. Sua primeira tentativa foi um retumbante fracasso.

Com apenas 18 anos, recebeu um Fusca como prêmio em um concurso de monografias organizado pelo Exército. Encantado com a alta das ações, investiu na renda variável e perdeu tudo em pouco tempo.

— Saí com o dinheiro para uma refeição — relembra.

Como empresário já estabelecido, voltou a aplicar na Bolsa. O prejuízo foi ainda maior, de US$ 200 mil. Só no início dos anos 1990 teve o primeiro sucesso, quando investiu US$ 1 milhão. Multiplicou a fortuna por quatro e conseguiu comprar a participação do sócio na Videolar.

Em 2008, o investidor também perdeu alguns milhões, mas, desta vez, aproveitou a baixa para aumentar sua posição, atravessou a crise e saiu dela ainda mais rico. Além do faturamento da Videolar e dos fundos de ações (90% nos setores de siderurgia, mineração, bancos e companhias elétricas), Lirio investe em imóveis.

Tem um apartamento com quatro suítes no Bairro Ponta Negra, o mais nobre de Manaus, um no Costão do Santinho, em Florianópolis, e outro em São Paulo, onde passa a maior parte do seu tempo. Na garagem um Porsche Cayenne, que na versão mais simples custa quase R$ 400 mil e, de reserva, para driblar o rodízio na capital paulista, um Mercedes. Em Manaus, Lirio mantém um outro carro, que dirige ele próprio, com auxílio de um GPS.



domingo, 29 de abril de 2012

sábado, 10 de março de 2012

POST 1380: O BRASIL QUE SÓ OS GRINGOS ENXERGAM. Por Ricardo Amorim

Nos últimos meses, é raro passar uma semana sem que eu receba um convite para palestrar em conferências no exterior sobre investimentos no Brasil. Tenho feito também muitas reuniões de consultoria com estrangeiros, presidentes e diretores de multinacionais, visitando nosso país para conhecer melhor sua economia.

Em pauta decisões sobre uma eventual entrada ou ampliação das operações de suas empresas por aqui. Quase sempre, algum tempo depois, os investimentos se materializam.

Após duas décadas apresentando a economia brasileira a investidores locais e estrangeiros, pensei que nada mais me surpreenderia. Engano meu.

Nos anos 90 e início da década passada, perguntas em relação ao Brasil eram sobre problemas e riscos. Ao longo deste período, a análise aprofundada de casos de crises financeiras em muitos países treinou-me a identificar sintomas e causas que levam a crises econômicas, mais ou menos como um médico faz um diagnóstico.

Eu nem imaginava que um dia iria antecipar crises nos EUA, Europa e Japão – as ex economias modelos – e suas consequências. Imaginava, ainda menos, que altos executivos de empresas de lá me procurariam para entender crises econômicas e impactos nos seus negócios. Ao contrário de nós brasileiros, forjados em crises nos anos 80 e 90, os ricos não as enfrentavam há décadas, o que despreparou seus executivos.

Outra surpresa, a imensa maioria das perguntas dos estrangeiros, agora foca em participar da emergência brasileira e não mais em quais problemas o Brasil ainda tem.

O ganho de importância do Brasil e a consequente mudança de postura da comunidade empresarial global em relação a nós já aconteciam há anos, mas se aceleraram após a crise financeira global de 2008.

Nos últimos três anos, investimentos produtivos de empresas estrangeiras no país – IED no jargão dos economistas – triplicaram, levando o país de 14º a 3º receptor global, atrás apenas da China e EUA.

A imagem do país entre os estrangeiros mudou. Entre nós mesmos, ainda não.

As recentes reclamações da presidente Dilma em relação ao “tsunami financeiro” vindo dos países ricos, e do ministro Guido Mantega quanto à Guerra Cambial desconsideram a nova ordem econômica global.

Em 2010, em meu artigo Guerra!, já alertava que forte emissão monetária e enfraquecimento das moedas dos países ricos, e ainda um redirecionamento do crescimento chinês para mais consumo local – também anunciado esta semana – eram inevitáveis.

Não significa que o Brasil não possa e não deva enfrentar o novo quadro. Porém, para ter sucesso, é preciso compreender este quadro, abandonar sucessivas medidas de controles de capitais, que só enxugam gelo, e lidar com o cerne do problema brasileiro de competitividade: o excesso de gasto público.

Se o governo gastar menos, tomar menos dinheiro emprestado, as taxas de juros baixarão mais, atraindo menos dólares e reduzindo a apreciação do Real. Os impostos podem cair e investimentos em infraestrutura crescer, melhorando a competitividade.

Enfim, os estrangeiros enxergam o Brasil como potência econômica, já nosso próprio governo, ao invés de tomar as rédeas da situação, culpa outros países pelos males que nos afligem e por defender seus próprios interesses e necessidades.


Texto publicado originalmente em Revista IstoÉ de 09/03/2012

Ricardo Amorim
Formado pela Universidade de São Paulo, com pós graduação pela ESSEC de Paris, o economista Ricardo Amorim foi um dos poucos que anteciparam a crise elétrica brasileira de 2001, a crise imobiliária americana de 2008, a crise européia de 2010 e suas consequências.
Mais de Ricardo Amorim AQUI

POST 1379: PREPARANDO-SE PARA UM ANO DE INCERTEZAS – PARTE 2 Por André Massaro


Dando continuidade às considerações sobre um possível “ano difícil” pela frente, vamos ver algumas estratégias financeiras defensivas que merecem ser analisadas e, quem sabe, adotadas. Uma coisa interessante sobre estratégias financeiras defensivas é que, com raras exceções, “mal não vão fazer”. Se as previsões mais pessimistas sobre o ano que vem estiverem completamente furadas e tivermos mais um ano de crescimento e euforia econômica, o pior que pode acontecer (ressaltando novamente “com raras exceções”) é ter vivido o ano de forma menos intensa, mas com uma situação mais equilibrada no final.

1 – “Quem não deve não teme”
Existem poucos exercícios de futilidade e perda de tempo maiores do que pensar em investimentos e retornos quando se está endividado. Empresas se endividam e pensam em retorno, mas usam o dinheiro emprestado (ou pelo menos deveriam usar) para “alavancar” seus resultados – ou seja, elas tomam dinheiro emprestado a um custo “X” para investir em seu negócio que traz um retorno maior que “X”.

Estão, literalmente, “ganhando com o dinheiro dos outros”. Mas raramente uma pessoa física consegue tomar dinheiro emprestado e, de alguma forma, se beneficiar da alavancagem. Pessoas físicas usualmente usam crédito para o consumo, e não para gerar algum retorno que seja superior ao custo desse crédito.
O primeiro passo de uma postura financeiramente defensiva é parar, imediatamente, de fazer dívidas e adotar uma postura de viver conforme os meios permitem. É importante notar que não estamos falando de um problema financeiro, mas sim comportamental e disciplinar, que afeta diretamente a vida financeira.

2 – “Espere o melhor, mas prepare-se para o pior”
Quem consegue passar pela primeira (e mais difícil) etapa, que é parar de se endividar, deve começar a se preocupar em ter uma reserva financeira liquida e de fácil acesso para situações emergenciais, como a perda repentina do emprego.
Hoje, muitos brasileiros têm patrimônio zero ou negativo, por conta do endividamento. Eliminar o endividamento é fundamental para que se possa pensar em começar a constituir uma reserva. É importante aqui criar uma regra e ser rígido com ela. Normalmente recomenda-se às pessoas que procurem guardar algo entre 10% a 15% de suas rendas mensais, mas, na iminência de cenários ruins, quanto maior o percentual, melhor.

3 – Investindo defensivamente
Quem tem dinheiro sobrando (e investido) deve, mais do que nunca, ficar atento a algumas regras básicas do gerenciamento de riscos. Nosso povo tem algumas coisas engraçadas… Se eu sair por aí dizendo que vou pegar todo o meu dinheiro e investir tudo em uma única empresa, comprando ações dela na bolsa de valores, é capaz de mandarem me internar num hospício. Mas se eu disser que vou comprar um único imóvel para alugar e receber essa renda de aluguel, muita gente vai achar a decisão mais sábia e sensata do mundo…
Bem, novamente não estamos falando de problemas financeiros, e sim de valores pessoais, visões, percepções e crenças. Investir defensivamente exige que adotemos uma “política de risco” para nossas decisões, e um grande desafio é estabelecer essa política de riscos de uma forma coerente e objetiva, sem deixar que nossas emoções e nossas percepções nos traiam.
O procedimento mais básico (e mais eficaz) de uma política de gestão de riscos é a diversificação. Diversificar os investimentos entre categorias (renda fixa e renda variável) e entre emissores (títulos públicos e privados, no caso de renda fixa, e diferentes empresas e segmentos, no caso de renda variável). Em situações de incerteza, é comum as pessoas darem maior “peso” em suas carteiras de investimento a títulos de renda fixa emitidos por governos e comprarem ações de empresas de setores mais “tradicionais” e com reputação de serem boas pagadoras de dividendos. É uma boa prática para o investidor não profissional cuja maior preocupação é a defesa do patrimônio.

4 – Tristeza de uns, alegria de outros…
Reduzir o consumo, poupar dinheiro e se preocupar em investir de forma conservadora não é a coisa mais agradável de se fazer. Aliás, é algo bastante chato… por isso vamos tentar “fechar” nosso pacote de estratégias defensivas com algo mais divertido e animado, onde exercitaremos nossa imaginação e nossa criatividade.
Vamos começar a traçar cenários e imaginar que, no ano que vem, tudo dê errado e a economia vá para o buraco de vez. Como poderíamos ganhar com isso? Reclamar e se lamuriar nunca foi uma estratégia muito interessante para tentar gerar riqueza,por isso minha proposta é fazer um exercício mental para tentar enxergar onde estariam as oportunidades caso o cenário ruim vire realidade. Quais seriam os negócios “contra cíclicos” que poderiam gerar riqueza quando a economia vai mal? Ponha seu cérebro para funcionar e descubra!
Afinal, não devemos esquecer que grandes fortunas e grandes oportunidades surgem nas épocas de crises. E também não devemos esquecer que, para explorar adequadamente as grandes oportunidades, é bom estar com a vida financeira bem resolvida e equilibrada, por isso não se esqueça das estratégias anteriores!

Texto originalmente publicado em EXAME

André Massaro
Administrador de empresas pós-graduado em economia.
Já foi executivo financeiro, consultor e investidor profissional.
Mais de André Massaro AQUI 

quinta-feira, 1 de março de 2012

POST 1350: PREPARANDO-SE PARA UM ANO DE INCERTEZAS – PARTE 1. Por André Massaro

Realmente estamos vivendo uma época paradoxal. Ainda me lembro (e olha que não faz tanto tempo assim) quando diziam que “quando os EUA dão um espirro, o Brasil pega uma pneumonia”. O pessoal do mercado financeiro (em especial a turma da bolsa) costumava se referir aos EUA como “a matriz”. Horas antes da abertura dos mercados no Brasil todo mundo se perguntava como estavam os mercados futuros na “matriz”, se referindo à bolsa de Chicago. Era um claro indicador de como ia ser a abertura dos mercados por aqui. Nosso mercado parecia simplesmente se limitar a repetir passivamente o que acontecia lá fora.
O termo “matriz” ainda é usado como apelido carinhoso para os EUA, mas vem perdendo um pouco o sentido. O mundo está tão mudado que já não se sabe mais quem é a matriz de quem. Um extraterrestre que chegasse agora ao planeta Terra poderia achar que a matriz do mundo é o Brasil, afinal, aqui o clima é de absoluta pujança e euforia, enquanto economias tradicionais como EUA, Europa e Japão caminham celeremente rumo ao abismo. Os EUA estão morrendo de pneumonia e nós ainda sequer espirramos…
Mas esse extraterrestre certamente ficaria intrigado se analisasse o Brasil mais a fundo. Afinal de contas, o Brasil é o 126º colocado no ranking de facilidade de negócios do Banco Mundial (que tem 183 países). Onde está a base de toda essa euforia? Nosso visitante do espaço ficaria ainda mais intrigado se conversasse com algumas pessoas da classe média brasileira. Ele perceberia que existem dois tipos de classe média: de um lado uma classe média “nova”, cria dessa euforia econômica recente, extremamente animada e otimista, gastando adoidado e se sentindo milionária, pois agora pode “viajar de avião pagando em dez vezes no cartão”… e de outro lado uma classe média “tradicional” que tem uma sensação oposta, de que seu padrão de vida está caindo e que seu poder de compra está derretendo.
O Brasil não é e nunca foi um país “fácil” para se fazer negócios, e nossa posição no ranking deixa isso muito claro. Circunstâncias econômicas absolutamente especiais e incomuns estão fazendo com que o Brasil (assim como alguns outros países emergentes) esteja imune à maré de negatividade que vem de fora, mas nada garante que a situação não possa mudar (para pior) em 2012. Pode ser também que mude para melhor, mas… nas atuais circunstâncias, uma deterioração da situação parece ser o caminho de menor resistência.
Uma coisa que chama muito a atenção hoje em dia é a situação do emprego. Estamos numa situação de praticamente “pleno emprego”, o que também é algo historicamente incomum para nós. O desemprego sempre foi uma fonte de angústia e um fantasma que rondava os brasileiros, mas agora não mais. Aliás, a facilidade com que um profissional consegue arrumar um emprego hoje em dia (já virou clichê entre os empresários falar em “apagão da mão de obra”) certamente é algo que está contribuindo para o excessivo endividamento do brasileiro, que se sente seguro com a facilidade de conseguir um novo emprego caso perca o atual e por isso “manda bala” no consumo e nas dívidas.
Sei que muitos virão com aquela conversa de “ah, mas o endividamento do brasileiro ainda é baixo em relação à média dos povos das economias desenvolvidas” (argumento tecnicamente correto, mas que convenientemente “esquece” o altíssimo custo das nossas dívidas), mas o fato é que o brasileiro médio está excessivamente alavancado e, se houver alguma coisa (ainda que remota) que faça a situação do emprego piorar, pode ser o início de uma reação em cadeia. Afinal de contas, se as pessoas começarem a perder seus empregos (estando cheias de dívidas) e não conseguirem rapidamente outra fonte de renda para dar conta de seus compromissos financeiros, o que vocês acham que vai acontecer?
Algumas luzes amarelas andaram acendendo nos últimos dias, como divulgações recentes de dados econômicos do Brasil que indicam uma desaceleração econômica. Pode ser um indício de que nossa situação vai começar a se deteriorar? Não sei responder (prever o futuro não é uma das minhas especialidades…), mas sinto que o cenário pede que passemos a adotar uma postura mais defensiva com relação ao nosso dinheiro e à nossa situação financeira.
No próximo artigo, veremos algumas estratégias que podem ser adotadas para que não sejamos pegos “de calças arriadas” caso algo ruim aconteça no ano que vem. Até lá!

Postado originalmente na EXAME


André Massaro
Administrador de empresas pós-graduado em economia.
Já foi executivo financeiro, consultor e investidor profissional.
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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

POST 1330: INFOGRÁFICO - O IPO DO FACEBOOK EM NÚMEROS


Recentemente, a rede social Facebook decidiu dar um passo estratégico em seus negócios e apresentou os documentos para sua oferta inicial de ações na bolsa (IPO, na sigla em inglês) junto à Comissão de Valores e Câmbio dos Estados Unidos - órgão regulador, equivalente à Comissão de Valores Mobiliários no Brasil.

A operação, uma das mais aguardadas por investidores e acionistas de todo o mundo, promete ser a maior já vista entre as empresas de tecnologia e internet, com uma expectativa de arrecadação inicial da ordem de US$ 5 bilhões. O IPO do Google, por exemplo, realizado em agosto de 2004, rendeu 1,6 bilhões à companhia.

As ações ainda não foram disponibilizadas para compra e venda, mas o Facebook
teve que revelar muitas informações que antes eram mantidas a sete chaves, como o número de usuários e suas atividades na rede.

Separamos no infográfico abaixo algumas das informações mais importantes sobre o IPO do Facebook.






FONTE: ADMINISTRADORES

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

POST 1203: OPORTUNIDADES NO BRASIL. Por Ricardo Amorim

Chegou a hora do Brasil aproveitar as oportunidades.
Em entrevista exclusiva, o economista Ricardo Amorim explica por que o país não deixará de crescer com a crise financeira mundial e afirma que os próximos anos serão os melhores da nossa história.

Nos últimos meses de 2011, as notícias que chegaram da Europa não foram nada animadoras. Não podemos nos iludir. É fato que, em 2012, a economia mundial sentirá os efeitos da crise. Mas não é menos verdade que, no Brasil, estamos vivendo um outro momento, de intenso e vigoroso crescimento. Nossas finanças estão equilibradas, nosso mercado interno é cada vez mais forte, e novas oportunidades surgem com velocidade inédita, nos quatro cantos do nosso imenso território.

Foi justamente para falar sobre crise mundial e oportunidades no Brasil que entrevistamos o economista Ricardo Amorim. Consultor financeiro e de investimentos, desde 2003 ele é um dos debatedores do programa Manhattan Connection, da Globo News. Bem informado e com ampla capacidade analítica, Ricardo antecipou a atual crise europeia e suas consequências. Após viver muitos anos no exterior como executivo do mercado financeiro, o economista voltou ao Brasil no fim de 2008, prevendo que a recessão nos países ricos seria longa e as oportunidades de negócios no Brasil nesta década seriam as melhores da nossa história. É sobre tudo isso e muito mais que ele fala na entrevista a seguir.



Em que medida a crise mundial afetará a economia brasileira em 2012?
Infelizmente, o mais provável é que, assim como a maior parte da economia mundial, o Brasil cresça muito pouco nos próximos trimestres em função dos problemas na Europa e da fragilidade da economia americana. Quando o crescimento perde força, empresas param de contratar e investir, e bancos param de emprestar, aprofundando o próprio desaquecimento.

É um panorama parecido com o que seguiu à crise imobiliária americana de 2008?
O cenário econômico mundial será bastante adverso no início de 2012, com crescimento baixíssimo, como em 2009. Por outro lado, a economia brasileira se recuperou no segundo semestre de 2009. E, em 2010, o Brasil teve seu maior crescimento em mais de 25 anos. É provável que a história se repita e nosso crescimento bata recorde em 2013 e mantenha-se elevado em 2014, ano de Copa do Mundo e eleições.

E para a Europa, há alguma esperança?
Lamento dizer que não. Devido à letargia dos líderes europeus, recessão por lá, este ano, é praticamente uma certeza.
Uma recessão branda é o cenário mais otimista. A situação é tão séria que talvez a Europa tenha uma década perdida, do ponto de vista econômico, como a América Latina nos anos 1980.

A crise deve chegar forte também aos Estados Unidos, mesmo em ano de eleição presidencial?
Ainda que a Europa tenha apenas uma recessão branda, é bem provável que a crise se estenda aos EUA. Paralisia política, cortes de gastos públicos e aumentos de impostos elevam ainda mais a probabilidade de recessão naquele país em 2012.

E a poderosa China, está imune à crise?
A economia chinesa também está mais frágil do que em 2008, quando o PIB crescia 14% ao ano; agora são “apenas” 9%. Além disso, a redução na oferta de crédito global causada por preocupações com a Europa expôs problemas nas construtoras chinesas. Um eventual estouro de bolha imobiliária na China aumentará as dificuldades da economia global.

Voltando ao Brasil, o que o governo pode fazer para atenuar os efeitos da crise?
Deve cortar impostos e reduzir os juros, como, aliás, já começou a fazer. Ao contrário do que ocorre na Europa, nos EUA e no Japão, em que as taxas de juros estão próximas a 0% ao ano, aqui temos bastante espaço para combater os impactos da crise com estímulos fiscais e monetários.

Alguma recomendação para empresas e empreendedores no novo ano?
O mais importante é evitar endividamentos. Caso precise mesmo recorrer a empréstimos, o empresário deve tentar obter prazos de pagamento superiores a um ano, pois, se tiver que refinanciar esses empréstimos no curto prazo, corre o risco de enfrentar falta de crédito no início de 2012.

Em agosto de 2011, o Brasil ocupava a 53ª posição do ranking de competitividade global divulgado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF). Como essa ineficiência afeta a capacidade do país de gerar riqueza?
Essa posição média do ranking de competitividade é, ao mesmo tempo, causa e consequência de o Brasil ser um país de renda média. Exatamente por sermos pouco competitivos, não nos tornamos um país rico. E, por não sermos um país rico, não conseguimos eliminar vários gargalos de crescimento que afetam nossa eficiência.

Você identifica alguma tendência de reversão desse quadro no futuro próximo?
A novidade é que, impulsionada por externos, a economia brasileira cresceu nos últimos oito anos a um ritmo médio duas vezes superior à média dos 25 anos anteriores, apesar da baixa competitividade.
Se isso continuar, o que deve ocorrer, é provável que muito gradualmente nossa competitividade melhore. Mas teremos que ter bastante paciência.
Até que ponto a recente entrada de milhões de brasileiros na chamada “nova classe média” muda a economia e o ambiente de negócios do país?
Completamente. De 2005 a 2010, em meros cinco anos, 45 milhões de brasileiros deixaram as classes D e E. Isso equivale a toda a população da Espanha. No mesmo período, 55 milhões de brasileiros ingressaram nas classe A, B e C. Ou seja, o Brasil ganhou toda uma Itália de novos consumidores efetivos. Além disso, a própria distribuição geográfica da renda vem melhorando.
Nas regiões Norte e Nordeste, o poder aquisitivo tem crescido mais que no resto do país. A renda de toda a população brasileira cresceu, e não foi pouco, à medida que o país se beneficiou da fome chinesa pelas nossas matérias-primas e de baixas taxas de juros globais.

O que explica essa verdadeira revolução?
Ela começou com a vitória contra a inflação na segunda metade dos anos 1990.Como mais da metade da população não tinha conta bancária, não podia se proteger da inflação que corroía ferozmente seus já baixos salários. Com a queda da inflação, isso deixou de acontecer e a renda dos mais pobres começou a crescer. Fora isso, todo santo ano, há 14 anos, o salário-mínimo passa por reajustes superiores à inflação, o que também favorece os mais pobres. E também há os programas de redistribuição direta de renda, como Bolsa-Escola e Bolsa-Família, além de programas de governo focados nos mais pobres, como o Minha Casa, Minha Vida.

E o que devemos esperar para os próximos anos?
A inflação deve continuar sob controle, o salário-mínimo continuará crescendo acima dela, e os programas sociais provavelmente serão expandidos, independentemente de quem ganhar as próximas eleições presidenciais. Afinal, todo político gosta de ser popular. Então, é bastante provável que a melhora de distribuição de renda continue ao longo desta década, favorecendo em particular os setores de saúde e educação, focos das principais ambições da nova classe média. Pelas minhas projeções, teremos cerca de 30 milhões de brasileiros ingressando nas classes A, B e C até 2015.
São muitos novos consumidores.

Como seguradoras e corretores podem se diferenciar da concorrência para aproveitar essas oportunidades de negócio?
Oferecendo produtos e serviços melhores do que a concorrência e/ou preços mais baixos. Não há nenhuma outra estratégia de diferenciação que eu conheça que seja eficiente no longo prazo. Apenas um terço da frota de automóveis brasileira é segurada, o que mostra o imenso potencial de crescimento do seguro no país – mas também uma baixa disseminação da cultura do seguro entre nós.

Como você vê o futuro do setor nos próximos anos?
Paradoxalmente, faz muito sentido que, no Brasil em que tudo dava errado – o país não crescia e a instabilidade era enorme –, os brasileiros não se preocupassem com seguros. Duas décadas de instabilidade econômica e crescimento pífio roubaram a crença de que o país adormecido tivesse qualquer futuro e também a nossa capacidade de pensar além do hoje e planejar para construir o amanhã. Sem prever, como planejar? Já que não conseguíamos vislumbrar o que viria, acostumamos a viver como se não houvesse amanhã. A preocupação era com a sobrevivência, não com crescimento ou sustentabilidade.

domingo, 8 de janeiro de 2012

POST 1188: VOCÊ PRECISA DE UM PERSONAL TRAINER FINANCEIRO? Por André Massaro


Como eu gostaria de ter sido um atleta… Nunca levei muito jeito para a coisa, mas admirava as pessoas que conseguiam fazer proezas físicas e para quem a boa forma era um estado absolutamente natural. Minha inabilidade para esportes e atividades físicas em geral ainda é algo um pouco misterioso para mim. Talvez eu não tenha sido adequadamente motivado, mas o fato é que só comecei a dar uma maior importância para a boa forma física quando virei adulto. Mais especificamente após os trinta anos (não tenho dado tanta importância quanto deveria mas, acreditem, já estive pior no passado…).

Eu comecei a dar um pouco mais de atenção ao meu próprio corpo e à minha saúde depois de ter me tornado um profissional de finanças com alguma experiência; então foi inevitável, para mim, traçar um paralelo entre as duas coisas.

Uma coisa que eu já havia aprendido sobre dinheiro (uma das coisas mais irônicas e contraditórias do mundo das finanças) é que quanto mais você se “preocupa” com o dinheiro, menos precisa se preocupar com ele. Isso significa que, quanto mais atenção você der à sua situação financeira agora, menor será o risco de que você se veja em uma grande enrascada financeira do futuro (aí, sim, você vai descobrir o que é se preocupar…).

Descobri que meu corpo funciona mais ou menos do mesmo jeito: quanto mais eu cuido dele “direitinho”, é menor a possibilidade de que eu me veja na frente do médico ouvindo uma bronca e, talvez, alguma má notícia.

Só que, apesar desse paralelo, existe uma grande diferença entre as duas coisas. É possível você “terceirizar” completamente sua vida financeira, colocando suas decisões de consumo e investimentos nas mãos de amigos, cônjuges, gerentes de banco, consultores, contadores ou o que preferir. Existem pessoas que passam por toda a vida sem nunca terem visto um extrato da própria conta bancária. Seguem placidamente sem ter a menor ideia do que acontece em suas vidas financeiras.

Já nosso corpo não aceita muito bem essa terceirização. Eu posso contratar um personal trainer para me preparar fisicamente mas, não importa o quão caro eu pague, não consigo fazer com que ele entre em forma em meu lugar. Adoraria contratar alguém para ficar fazendo dieta e exercícios em meu lugar enquanto eu colho os benefícios disso mas, ao menos por enquanto, a biologia e a tecnologia médica não permitem algo assim…

Voltando um pouco à questão da terceirização das finanças, minha prática profissional mostra que, apesar de parecer um ótimo negócio deixar tudo nas mãos de alguém, que vai cuidar para nós daquelas “coisas chatas”, isso nem sempre é algo muito positivo.

Com frequência assustadora, sou procurado por pessoas passando por alguma situação financeira complicada (e põe complicada nisso…) que foi originada por um acompanhamento deficiente da própria situação financeira ao longo do tempo. Isso pode acontecer por culpa da própria pessoa (muita gente gosta de acreditar que está “tudo bem” até dar de cara com a dura realidade) ou de terceiros, que não estavam tecnicamente preparados para a função ou agiram de má-fé mesmo.

É preciso deixar uma coisa muito clara neste momento: nossa vida financeira não é “terceirizável”. Temos que ter algum grau de controle sobre nossas próprias finanças. Podemos até delegar algumas funções mais operacionais e maçantes, mas não podemos abrir mão, jamais, das decisões importantes e de saber, a qualquer momento, o que está acontecendo com nosso dinheiro.

Algumas pessoas acabam recorrendo a profissionais financeiros como consultores pessoais ou mesmo os próprios gerentes bancários para organizar e planejar suas finanças, mas o que essas pessoas precisam mesmo é de um “personal trainer financeiro”, alguém que não fará organização ou planejamento algum, mas a preparará e educará para que se fortaleça financeiramente e se torne uma pessoa autônoma, independente e bem informada para tomar suas decisões por si mesmas (e aí sim fazer seu próprio planejamento). Se precisarem consultar alguém elas o farão, mas farão em busca de informações e análises que ajudarão a refinar suas decisões, e não simplesmente para perguntarem, com voz chorosa, “e agora, o que eu faço?”.

Faça um grande favor a si mesmo: não entregue sua vida financeira “de bandeja” nas mãos de quem quer que seja. Se for recorrer a alguém, recorra a um profissional que esteja empenhado em prepará-lo e educá-lo para ter uma vida financeira saudável, e não uma eterna relação de dependência. Invista em sua evolução pessoal e em sua educação financeira.



André Massaro
Administrador de empresas pós-graduado em economia.
Já foi executivo financeiro, consultor e investidor profissional.

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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

POST 1151: REVISTA RI: ENTREVISTA DO ECONOMISTA RICARDO AMORIM SOBRE TENDÊNCIAS EM 2012

RI: Em entrevista a Revista RI em março de 2009, você previu que a crise deflagrada pelo estouro da bolha do subprime no mercado americano, ia demorar anos e não meses ou trimestres e que os países desenvolvidos não estavam se dando conta disso. De lá para cá a crise, que no início quebrava bancos, passou a derrubar países. Devemos acrescentar 2012 nesses anos?
Ricardo Amorim: Sem dúvida nenhuma. Chegou a hora da verdade na Europa. Como venho alertando nos dois últimos anos, o projeto da Zona do Euro, como inicialmente concebido, é insustentável. A União Europeia nasceu com o objetivo de integrar diversos países, tornando-os mutuamente dependentes, reduzindo assim riscos de conflitos entre eles, inclusive bélicos. Infelizmente, em seu formato atual, a coesão não é suficiente para atingir esta meta. Pelo contrário. Hoje, um mix de interdependência monetária e cambial e uma completa independência fiscal está exacerbando as tensões políticas entre os países da zona do euro.

Muito em breve, a Europa terá de decidir entre mais coesão, perda de autonomia nacional ou, o caminho oposto, revertendo seu projeto mais ambicioso e seu mais importante instrumento de integração: a moeda comum, com a saída de um ou vários países da Zona do Euro. Mais integração exige a adoção de medidas politicamente impopulares tanto pelos países em situação financeira frágil, quanto pelos que atuariam como âncora da Europa unida. Por um lado, Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália teriam que abrir mão de boa parte de sua soberania fiscal para a União Europeia.

Quer um paralelo? Imagine que, em meio a uma crise no Brasil, fossem anunciados a criação de novos impostos, o aumento de idade de aposentadoria e o fechamento de hospitais por decisão do governo do Mercosul.

Por outro lado, a Alemanha teria que financiar uma enorme expansão dos recursos do fundo de resgate europeu e a criação de “bônus europeus” que transferem à todos os membros da Zona do Euro a responsabilidade pela dívida de cada um deles e aceitar a emissão de euros pelo Banco Central Europeu para compra de títulos de países em dificuldades – o que causará desvalorização da moeda e aceleração da inflação. Consegue imaginar o Brasil aceitando a volta da inflação para ajudar a Argentina ou se responsabilizando pela dívida do Paraguai? A Europa terá de decidir se quer e se consegue avançar na integração.

Sem isso, calotes soberanos e uma nova crise econômica global são inevitáveis. Ambas alternativas são difíceis e dolorosas. Não existe a opção do status quo. Além de seus impactos sobre as perspectivas de crescimento global no próximo ano, a decisão europeia será fundamental para definir todo arcabouço da economia mundial na próxima década. Se optar pela integração, para ter sucesso, a Europa terá que ser apoiada por organismos internacionais – cuja própria sobrevivência dependerá de sua capacidade de apoio e de cobrança de medidas duras – e, principalmente, pelos novos donos do dinheiro no mundo, os países emergentes, capitaneados pela China.

Para isso, europeus, americanos e japoneses terão de reconhecer, formalmente, sua atual dependência financeira de países historicamente periféricos e realizar uma enorme transferência de poder para eles nos organismos multilaterais.

Se todos não formos capazes de darmos passos tão grandes, o processo de desintegração econômica e recessão na Europa pode virar a semente de movimentos protecionistas que revertam a globalização das últimas décadas, podendo, no limite, colocar em risco o próprio sistema capitalista. Mesmo assumindo que a crise europeia será resolvida, o processo de desalavancagem nos países desenvolvidos terá de continuar ao longo da década.

Entre 1980 e 2007, houve um enorme aumento de endividamento de famílias, empresas, setor financeiro e governos dos países desenvolvidos. A crise de 2007 marcou o início do processo de desalavancagem, que durará, no mínimo uma década, com crescimento baixo e muito volátil nos países desenvolvidos, que, ao longo desta década ainda terão de lidar com outras crises importantes – incluindo estados e municípios e cartões de crédito nos EUA e dívida do governo japonês.

RI: Neste sentido, você acredita que desta vez a crise chegará mais forte aos emergentes como Brasil e China?
Ricardo Amorim: Isto vai depender de como a crise avançará na Europa. Se os países europeus forem capazes de se integrarem, apesar dos desafios políticos, teremos uma recessão global em 2012 mais branda do que a de 2009. Se não forem, a crise nos países desenvolvidos e seus reflexos nos países emergentes serão maiores do que em 2009, porque desta vez a crise financeira pode ser maior – estamos falando de vários países em crise e não apenas de um grande setor de um grande país, o imobiliário americano. Para piorar, os países desenvolvidos gastaram os principais instrumentos de resposta à crise na crise passada. Atualmente, não podem mais estimular suas economias com política fiscal expansionista porque a crise é fiscal.

Também não podem mais reduzir juros, que, na maioria dos casos, já estão muito próximos a 0% a.a. O único instrumento de resposta que sobrou, imprimir quantidades colossais de moeda, é o mais ineficiente e com os maiores efeitos colaterais, como nós brasileiros sabemos bem.

RI: Em 2008, o ex-presidente Lula dizia que a crise, um tsunami no mercado internacional, chegaria ao Brasil como uma marolinha. Agora, em 2011, a presidente Dilma mudou o discurso. A mudança foi acertada? Em que medida?
Ricardo Amorim: Lula acertou em cheio no tsunami. A marolinha foi discutível. No varejo brasileiro, efetivamente, tivemos apenas uma marolinha em 2009, quando as vendas cresceram mais de 6% em termos reais. Já na indústria, que sofre com a perda de exportações para mercados em crise, houve queda de produção industrial de 7%. Em 2012, é provável que a história se repita, com forte crescimento de varejo e serviços e contração da produção industrial.

RI: Como a mudança afeta os cenários econômicos desenhados para 2012 e qual seu impacto no mercado de capitais brasileiro? É melhor desde já, alertar que “apertem os cintos” e desejar um Feliz 2013?
Ricardo Amorim: Uma recessão mundial é muito provável em 2012. Seus primeiros sintomas já se sentem no Brasil, com a indústria e o comércio se retraindo, a inflação começando a cair e o Banco Central cortando os juros. O cenário econômico será bastante adverso no início de 2012 e o crescimento será baixíssimo, como em 2009. Por outro lado, a economia brasileira se recuperou no segundo semestre de 2009 e é provável que se recupere também no segundo semestre do ano que vem, inclusive com reabertura dos mercados de capitais. Em 2010, o país teve seu maior crescimento em mais de 25 anos. É provável que a história se repita e o nosso crescimento bata recordes em 2013 e mantenha-se elevado em 2014, ano de Copa do Mundo e eleições.

RI: Na sua visão, ações de empresas de quais setores da economia serão mais afetados?
Ricardo Amorim: Se a crise europeia se intensificar, provocando uma nova crise financeira, a Bolsa brasileira ainda pode passar por baixas significativas afetando todos os setores antes de atingir um novo movimento sustentado de alta.

Independentemente disso, quando acontecer, o novo ciclo de alta provavelmente será liderado pelos mesmos setores do último ciclo de alta: construção civil, bancos médios, empresas exportadoras de commodities e varejo. A alta só acontecerá quando houver perspectiva de recuperação global e, por consequência uma retomada da alta dos preços das commodities. Além disso, como o único instrumento de estímulo que restou aos países ricos é emissão monetária, uma grande parte desta emissão monetária acabará estimulando o crédito e o consumo em países emergentes – e, como no último ciclo, os setores mais dependentes de crédito nestes países terão melhor desempenho.

RI: A BM&F Bovespa tem trabalhado com afinco para trazer mais investidores internacionais, mais recentemente asiáticos, para o mercado local. Já bolsas asiáticas vêem prospectando empresas brasileiras para levar para seus pregões. Que fatores fazem com que um ou outro tenha mais chance de vencer essa disputa?
Ricardo Amorim: Não acho que são movimentos excludentes, mas sim complementares. Ambos são reflexos do crescente interesse de investidores globais por oportunidades no Brasil e ambos vão continuar.

RI: Como você avalia o papel da China para o desempenho da nossa economia e do mercado de capitais brasileiro em 2012?
Ricardo Amorim: Absolutamente fundamental. Se o crescimento chinês se enfraquecer, o que deve acontecer devido a recessões na Europa e nos EUA, uma queda do preço das commodities e fortes impactos negativos no Brasil serão inevitáveis. Por isso, acredito que o crescimento brasileiro em 2012 será muito menor do que os 5% previstos pelo governo e mesmo os 3,5% previstos pela maioria dos analistas e economistas.

RI: A China já é o maior parceiro comercial do Brasil. O comércio com a China pode evitar perda para a balança comercial brasileira decorrente da redução das transações com a Europa e EUA?
Ricardo Amorim: No início da década passada, 27% das exportações brasileiras chegaram a ir para os EUA, enquanto 15 vezes menos, menos de 2% do total de nossas exportações iam para a China. Atualmente, já exportamos quase o dobro para a China comparado com os EUA. Esta tendência vai continuar, até porque o preço das commodities que exportamos para a China continuará em elevação ao longo da década, apesar das enormes flutuações de curto prazo devido a crises esporádicas nos países desenvolvidos.

RI: Até agora a China tem apresentado altas taxas de crescimento econômico, apesar da crise. Até que ponto ela pode atenuar a recessão prevista para economia internacional, diga-se Europa e EUA?
Ricardo Amorim: A China atenuará os impactos negativos causados pela recessão da Europa e EUA, mas não impedirá que impactos significativos sejam sentidos em todo o mundo, da mesma forma que atenuou, mas não impediu em 2008 e 2009. Na realidade, a situação chinesa é pior do que em 2008 porque sua economia já estava em desaceleração quando a situação piorou na Europa e nos EUA. Por isso, sua capacidade de impedir uma recessão global também é mais limitada.

RI: Já existe alguma previsão de se, e quando, Europa e EUA poderão ver um happy ending para suas economias?
Ricardo Amorim: Temo que isto ainda esteja muito distante.
Os desequilíbrios que estão sendo revertidos foram gerados ao longo de quase 3 décadas. A única forma de revertê-los rapidamente seria com uma crise de proporções semelhantes a da Grande Depressão. Caso contrário, teremos, no mínimo uma década de crescimento letárgico, pontuada por crises esporádicas.

RI: A moratória foi uma boa saída para a Grécia?
Ricardo Amorim: A Grécia não tinha outra opção. Sua dívida era insustentável. Mega-transformações da economia mundial “condenaram” vários países emergentes, incluindo o Brasil, a crescer e, ao mesmo tempo, criaram obstáculos significativos às economias dos países ricos.

A isso, somam-se os defeitos congênitos da Eurolândia a requerer ajustes profundos e dolorosos. Ao contrário do que muitos dizem, não há nada de surpreendente nas sérias dificuldades econômicas vividas por EUA e Europa.

Também não surpreende que os líderes políticos destes países sejam culpados pelo mau desempenho econômico, com derrotas recentes das coalizões de governo nas eleições em oito países europeus. Surpreendente são os suicídios políticos que antecipam e potencializam dificuldades que já seriam graves.

Os melhores exemplos vêm da Itália e dos EUA. Inevitavelmente, a crise europeia contaminaria a Itália no futuro. População envelhecida e em queda, uma das dez menores taxas de crescimento econômico e um dos maiores níveis de dívida pública do mundo – que tornam a solvência italiana muito vulnerável a elevações das taxas de juros – fazem da Itália um alvo óbvio. Apesar disso, sem a arrogância de Berlusconi, que fragilizou seu ministro de Economia e a própria confiança no país, é provável que a Itália passasse ilesa por muitos meses ainda.

Nos EUA, a antecipação das preocupações foi ainda mais brutal. Por ter a moeda “mais aceita” no planeta, os EUA eram considerados porto seguro, apesar de terem níveis de déficit público e de expansão da base monetária que se igualam aos do Brasil no período hiper-inflacionário. Eis que um impasse no Congresso para a elevação do limite de endividamento público chama a atenção geral de que “o rei está nu”. Não fosse a inexequível exigência dos republicanos de que todo ajuste fiscal aconteça através de corte de gastos públicos, sem nenhuma reversão dos cortes de impostos realizados pelo governo Bush, em vez das seguidas reduções de classificação de risco por parte das agências de rating, poucos haveriam notado os pés de barro do gigante.

A exposição desnecessária das fragilidades americanas em escala global demonstra a total falta de compreensão pelas lideranças americanas da seriedade da situação em que o país se encontra. Ignorar a realidade desafiadora – como se os problemas sumissem se fizéssemos de conta que eles não existem – caracterizou também a crise italiana. Imaginava-se que os países mais ricos do planeta haviam criado sistemas e instituições aptas a lidar com crises. A verdade é que, períodos prolongados de sucesso econômico levaram esses países à incapacidade de ver a magnitude dos seus desafios.

No Brasil, décadas de desempenho econômico pífio alimentaram a ideia de que o País não podia dar certo. No mundo desenvolvido, o sucesso gerou a crença de que seus países não podem ser atingidos por grandes crises – coisa de repúblicas de bananas – incapacitando-os a impedi-las ou limitá-las, tornando-as inevitáveis.

POST 1148: FINANÇAS PESSOAIS – A VINGANÇA DOS “TIOZINHOS” Por André Massaro


Numa época de culto à juventude como a que vivemos, é sempre um grande alívio saber que o pessoal do “clube da meia idade” (aliás, estou esperando minha carteirinha de sócio chegar pelo correio…) ainda tem seu espaço.

Em 2010, um estudo elaborado pelo centro de pesquisas sobre aposentadoria do Boston College e publicado pelo Brookings Institution de Washington, chamado “What is the age of reason?” (“Qual a idade da razão?” em tradução livre) procurou relacionar evidências de declínio da capacidade cognitiva de indivíduos à medida que envelhecem com suas decisões financeiras.

Conforme esperado, o estudo demonstrou que pessoas mais velhas acabam ficando, de certa forma, em desvantagem quando se trata de assuntos financeiros. Finanças não é exatamente um assunto fácil para a maioria das pessoas e a queda na capacidade cognitiva associada ao envelhecimento não ajudam em nada. Inclusive os autores do estudo propõem, ao final, uma série de medidas a serem adotadas pelo governo ou autoridades reguladoras com o objetivo de proteger, de alguma forma, pessoas idosas que têm dificuldade em lidar adequadamente com suas finanças.

Mas o estudo acabou chegando a outra conclusão ainda mais interessante: analisando dados sobre o custo de transações financeiras efetuadas por pessoas de diversas idades, os pesquisadores observaram que as melhores decisões financeiras, baseadas no custo das transações, eram tomadas por aqueles indivíduos na faixa de quarenta e cinquenta anos.

O estudo levanta a hipótese de que isso acontece porque, nessa faixa etária, ocorre um equilíbrio ideal entre a “inteligência fluida” (que está mais presente quando ainda temos alta capacidade cognitiva) e a “inteligência cristalizada” (que vem do acumulo de experiência e conhecimento).

Ainda segundo os pesquisadores, a idade média onde as decisões financeiras estão em seu nível “ótimo” é de 53,3 anos.

Indivíduos idosos tomam decisões financeiras piores, pois com a queda na capacidade cognitiva, muitas vezes têm dificuldade em entender os detalhes e as “pegadinhas” das transações financeiras que estão realizando. Já os mais jovens acabam tomando decisões financeiras igualmente ruins, mas por inexperiência. O estudo não foca muito nos mais jovens, mas podemos imaginar que algumas outras características comumente associadas à juventude, como a “afobação” e o excesso de confiança em si mesmo tenham seu papel nessa performance ruim.

O mundo tem sido particularmente impiedoso com o pessoal da meia idade. Em filmes, novelas, programas e mesmo comerciais de televisão as pessoas que estão na meia idade são retratadas como imaturas, inseguras, complexadas e sempre correndo desesperadamente atrás da juventude perdida. Termos pejorativos como “idade do lobo”, “tiozinho”, “tiozão” e coisas do gênero são sempre associados à turma que está enfrentando os desafios da meia idade.

Mas quando se trata de finanças… consulte sempre um tiozinho! Aqui nós ainda estamos em vantagem! E desconfie de quem não tiver pelo menos um fio de cabelo branco na cabeça…

André Massaro
Administrador de empresas pós-graduado em economia.
Já foi executivo financeiro, consultor e investidor profissional.

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