quinta-feira, 1 de março de 2012

POST 1350: PREPARANDO-SE PARA UM ANO DE INCERTEZAS – PARTE 1. Por André Massaro

Realmente estamos vivendo uma época paradoxal. Ainda me lembro (e olha que não faz tanto tempo assim) quando diziam que “quando os EUA dão um espirro, o Brasil pega uma pneumonia”. O pessoal do mercado financeiro (em especial a turma da bolsa) costumava se referir aos EUA como “a matriz”. Horas antes da abertura dos mercados no Brasil todo mundo se perguntava como estavam os mercados futuros na “matriz”, se referindo à bolsa de Chicago. Era um claro indicador de como ia ser a abertura dos mercados por aqui. Nosso mercado parecia simplesmente se limitar a repetir passivamente o que acontecia lá fora.
O termo “matriz” ainda é usado como apelido carinhoso para os EUA, mas vem perdendo um pouco o sentido. O mundo está tão mudado que já não se sabe mais quem é a matriz de quem. Um extraterrestre que chegasse agora ao planeta Terra poderia achar que a matriz do mundo é o Brasil, afinal, aqui o clima é de absoluta pujança e euforia, enquanto economias tradicionais como EUA, Europa e Japão caminham celeremente rumo ao abismo. Os EUA estão morrendo de pneumonia e nós ainda sequer espirramos…
Mas esse extraterrestre certamente ficaria intrigado se analisasse o Brasil mais a fundo. Afinal de contas, o Brasil é o 126º colocado no ranking de facilidade de negócios do Banco Mundial (que tem 183 países). Onde está a base de toda essa euforia? Nosso visitante do espaço ficaria ainda mais intrigado se conversasse com algumas pessoas da classe média brasileira. Ele perceberia que existem dois tipos de classe média: de um lado uma classe média “nova”, cria dessa euforia econômica recente, extremamente animada e otimista, gastando adoidado e se sentindo milionária, pois agora pode “viajar de avião pagando em dez vezes no cartão”… e de outro lado uma classe média “tradicional” que tem uma sensação oposta, de que seu padrão de vida está caindo e que seu poder de compra está derretendo.
O Brasil não é e nunca foi um país “fácil” para se fazer negócios, e nossa posição no ranking deixa isso muito claro. Circunstâncias econômicas absolutamente especiais e incomuns estão fazendo com que o Brasil (assim como alguns outros países emergentes) esteja imune à maré de negatividade que vem de fora, mas nada garante que a situação não possa mudar (para pior) em 2012. Pode ser também que mude para melhor, mas… nas atuais circunstâncias, uma deterioração da situação parece ser o caminho de menor resistência.
Uma coisa que chama muito a atenção hoje em dia é a situação do emprego. Estamos numa situação de praticamente “pleno emprego”, o que também é algo historicamente incomum para nós. O desemprego sempre foi uma fonte de angústia e um fantasma que rondava os brasileiros, mas agora não mais. Aliás, a facilidade com que um profissional consegue arrumar um emprego hoje em dia (já virou clichê entre os empresários falar em “apagão da mão de obra”) certamente é algo que está contribuindo para o excessivo endividamento do brasileiro, que se sente seguro com a facilidade de conseguir um novo emprego caso perca o atual e por isso “manda bala” no consumo e nas dívidas.
Sei que muitos virão com aquela conversa de “ah, mas o endividamento do brasileiro ainda é baixo em relação à média dos povos das economias desenvolvidas” (argumento tecnicamente correto, mas que convenientemente “esquece” o altíssimo custo das nossas dívidas), mas o fato é que o brasileiro médio está excessivamente alavancado e, se houver alguma coisa (ainda que remota) que faça a situação do emprego piorar, pode ser o início de uma reação em cadeia. Afinal de contas, se as pessoas começarem a perder seus empregos (estando cheias de dívidas) e não conseguirem rapidamente outra fonte de renda para dar conta de seus compromissos financeiros, o que vocês acham que vai acontecer?
Algumas luzes amarelas andaram acendendo nos últimos dias, como divulgações recentes de dados econômicos do Brasil que indicam uma desaceleração econômica. Pode ser um indício de que nossa situação vai começar a se deteriorar? Não sei responder (prever o futuro não é uma das minhas especialidades…), mas sinto que o cenário pede que passemos a adotar uma postura mais defensiva com relação ao nosso dinheiro e à nossa situação financeira.
No próximo artigo, veremos algumas estratégias que podem ser adotadas para que não sejamos pegos “de calças arriadas” caso algo ruim aconteça no ano que vem. Até lá!

Postado originalmente na EXAME


André Massaro
Administrador de empresas pós-graduado em economia.
Já foi executivo financeiro, consultor e investidor profissional.
Mais de André Massaro AQUI

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