Por Don Peppers
Na semana passada publicamos em nosso blog um texto de Don Peppers sobre Preços Personalizados. O assunto repercutiu nas redes, por isso resolvemos trazer hoje um artigo mais aprofundado sobre o tema, também escrito por Don Peppers. Boa leitura!
No século 19 um fabricante de carroças tinha que deixar seu local de trabalho aos cuidados de seu filho adolescente por alguns dias, enquanto ia para alguma cidade vizinha a trabalho. Sem saber ao certo como lidar com os clientes, o garoto protestava, "Mas pai, eu não sei quanto cobrar por uma de nossas carroças! E se eu cometer um erro?"
Mas o pai respondeu: "É fácil, filho. Quando alguém perguntar 'quanto custa uma carroça?' você diz $20. Se ele não piscar, você diz 'pelas rodas'. E se ele ainda não piscar, você diz 'cada'".
As tecnologias de hoje estão dando vida nova a essa estratégia de preço do fabricante de carroças. Empresas de serviços financeiros colocam preços em seus produtos com base na renda ou nos Recursos do cliente, e sites de e-commerce cobram menos de um cliente que mora perto de uma loja concorrente. Cadeias de supermercados estão aumentando seus lucros e gerando mais fidelidade do cliente ao cobrar preços individualizados baseados nas compras anteriores de clientes diferentes.
Mas há um grande potencial de desvantagem nos preços individualizados. Se os preços um-a-um de uma empresa levam o cliente a sentir que a empresa tirou vantagem ou que ele foi enganado, a confiança será quebrada e o programa produzirá efeitos negativos. Então até que ponto, como empresa, você deve estar preparado para oferecer termos de preços individualizados para diferentes clientes? E quanto benefício financeiro você pode alcançar sem atravessar a linha da inconfiabilidade?
Primeiramente, devemos lembrar que produtos por si só são sempre configurados de maneira diferente, ou diferem em termos de pagamento, com informação inclusa sobre tempo, restrições de contrato, ou serviço. E sempre que um produto for individualizado, o preço deve ser individualizado também. Companhias aéreas são um bom exemplo. Não é incomum encontrar-se sentado perto de alguém no avião, que pagou metade do que você pagou (ou duas vezes mais), mas o simples fato é que essas pessoas compraram as passagens em momentos diferentes, e as passagens sempre tem restrições diferentes.
Mas e quando o produto é exatamente o mesmo, apenas com preços diferentes para clientes diferentes? Isso ainda não significa que o esquema de preço seja injusto ou antiético. A Economics 101 sugere que uma empresa deve estabelecer um preço desenhado para maximizar os lucros, e ao cobrar preços diferentes para clientes diferentes, a empresa está simplesmente tentando maximizar o lucro obtido de cada cliente. No final, os clientes são todos diferentes. Alguns desejarão um produto mais do que outros. Alguns estarão mais propensos a comprar por impulso. Alguns estarão mais propensos a negociar a qualidade pelo preço, e alguns serão mais específicos ao selecionar a marca certa.
Os dados disponíveis atualmente para os negócios, acoplados com tecnologias interativas, tornam possível tratar clientes diferentes de maneira diferente. E porque os preços individualizados são tecnologicamente possíveis hoje, permanecer competitivo é necessário. Em algumas indústrias não é mais uma opção.
Mas o problema da confiança do cliente é difícil, e tende a aumentar quando os clientes sentem que foram prejudicados ou enganados e pagaram mais do que precisavam ter pagado. Se, por exemplo, pequenas modificações forem vistas como mera cortina de fumaça para induzir o cliente a pagar quanto ele gostaria de pagar, ou se a complexidade do sistema de preços tende a ofuscar ou confundir um cliente (como é certamente o caso das tarifas de linhas aéreas, por exemplo), então o negócio está sobre uma camada fina de gelo, e a complexidade da estratégia de preços irá causar uma erosão na confiança do cliente.
Tenha em mente também que a marcha da tecnologia irá nivelar o campo de jogo. O que a tecnologia te dá hoje, ela poderá tirar amanhã. E não irá demorar muito até que as ferramentas de filtro social permitam o consumidor encontrar sozinho o menor preço que uma empresa está cobrando por um produto ou serviço entre todos seus clientes, ou mesmo como tirar vantagem do sistema de preços de uma empresa. No caso do programa de uma cadeia de supermercados, por exemplo, o New York Times entrevistou um comprador que, "como todo bom comprador"… já está começando a jogar com o sistema: ela notou que recebeu preços mais baratos em grãos de café quando alternava entre Starbucks e Dunkin' Donuts ao invés de comprar apenas no Starbucks.
Alguns sites já estão fazendo experiências com serviços que farão um tipo de "escalpelamento reverso" – o que significa que os clientes serão capazes de fazer seus próprios descontos se os tornarem disponíveis para outro cliente, por uma taxa ou apenas pela satisfação de fazê-lo. E os clientes de SmartPhones ganharão acesso a este tipo de informação e tomarão esse tipo de decisão mesmo enquanto estiverem na loja.
Então se seu negócio quer aumentar os lucros com preços individualizados, enquanto minimiza a erosão da confiança que esse tipo de política tem o potencial de gerar, eu sugiro:
1. Posicione o programa externamente, e pense-o internamente, como uma maneira de oferecer descontos adaptados, e não como uma maneira de extrair preços mais elevados.
2. Assegure-se que todas as suas comunicações sobre o programa, tanto externas quanto internas, refletem o posicionamento.
3. Assuma desde o início que seus clientes, individualmente, descobrirão como as suas decisões de desconto estão sendo feitas.
Tenha uma política de negociação com clientes individuais para diferentes termos de desconto, baseada em critérios claros, e
4. Acima de tudo, em qualquer disputa, problema, ou decisão, esforce-se para ser "justo" com cada cliente – simplesmente trate o cliente da maneira como você gostaria de ser tratado se fosse ele.
FONTE: Pepper & Rogers Brasil
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