sábado, 5 de maio de 2012

POST 1633: O LADO NEGRO DO RACISMO. Por Rodolfo Araújo

Já faz algum tempo que a leitura habitual de jornais é coisa do passado para mim. Em nada me acrescenta saber os pormenores do mais recente escândalo de corrupção, detalhes do último crime hediondo, nem análises das chances de cada um no próximo paredão - o que, definitivamente, virou pauta dos jornais antes sérios.

Exceto ligeiras variações nos nomes dos envolvidos, as histórias se repetem indefinidamente. Como minha mãe ainda cultiva tal hábito, cabe a ela apresentar-me as bizarrices do dia. Assim, peço à leitora, antecipadamente, um voto de confiança para acreditar no que escrevo a partir de agora, dada sua aparente inverossimilhança.

 
Eis que em dado domingo, um preocupado cidadão passeava pela Feira Hippie, em Ipanema, e estranhou o fato de duas bonecas diferentes, ainda que parecidas, serem vendidas por preços distintos numa mesma banca.

Ao zeloso especialista, que entende muito de bonecas e pouco de comércio, não ocorreu que uma pode ser mais cara por vender mais, por gastar mais material, ou por dar mais trabalho na sua confecção. A única explicação coerente com seu cérebro de pano era que a boneca mais cara era branca e a mais barata era negra.

O caso foi parar na coluna do Ancelmo Gois - que se presta a esse tipo de papel - e aterrissou no Conselho Estadual dos Direitos do Negro, ávido por uma notinha de rodapé.

Como toda ONG que ainda não descobriu sua utilidade, o CEDN resolver desperdiçar uma ótima oportunidade de não se envolver: anunciou que enviará três (!!!) representantes à feira para checar os preços das bonecas.

Caso a entidade conclua que o preço deve-se à diferença de cor das bonecas (três pessoas precisam ir lá para concluir isso?), ela vai denunciar a artesã ao Ministério Público (que também não tem nada mais importante para fazer) pelo crime de... racismo!

Se a boneca branca é mais cara, claro que é porque ela vende mais do que a preta - e isto já é motivo suficiente para os preços serem diferentes. Agora, o motivo de a boneca branca vender mais é outra história completamente diferente.

Pode ser porque há mais brancos do que negros na feira; pode ser porque só as crianças brancas têm dinheiro; ou pode ser que exista uma escola de balé na região. Qualquer que seja o motivo, a artesã não tem absolutamente nada a ver com isso!

O CEDN corre o sério risco - e esta é a única coisa séria desta história - de ser transformado em piada quando:

- Compradores de automóveis pedirem o fim do racismo nas concessionárias, onde o pobre carro preto custa mais barato do que todos os outros;

- Exigirem que o minicraque do Júnior Baiano tenha a mesma cotação da figurinha do Ronaldo Bolota. Aliás, por que eles não brigam pela isonomia dos preços dos jogadores de futebol? O Messi vale mais do que o Eto só porque é branco?

- Pedirem o estabelecimento de cotas para a Barbie negra e o Ken mulato;

- Precisarem explicar o que realmente fazem, quando não estão se metendo neste tipo de palhaçada.

Claro que a causa do racismo é nobre e justa, mas este tipo de ação envergonha aqueles realmente engajados, além de expor as ONGs a mais um ridículo desnecessário. Não é usando uma artersã de uma feira popular que eles chamarão atenção para o problema, muito menos buscando destaque numa coluna de jornal que já foi séria e hoje destina-se às fofocas.

A menos que este seja o único e real objetivo da presepada. Porque imagino que os movimentos de defesa legítima das minorias queiram uma igualdade que vá além das barraquinhas de feira.

 ***********

*NOTA DO AUTOR: caso alguém do CEDN chegue a ler este texto, entre uma importantíssima diligência e outra, adianto que não inventei a conotação pejorativa da cor negra e só troco o título se o caso for parar no Ratinho. Ou então vou dizer que não lembro de ter escrito o texto, porque me deu um branco. Não, branco não...




Rodolfo Araújo
Mestre em Administração pela PUC-RJ; Pós Graduado em TI pela FGV-RJ; Bacharel em Comunicação Social pela UFRJ.
Mais de Rodolfo Araújo AQUI

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