quinta-feira, 3 de maio de 2012

POST 1614: CINCO DILEMAS DE NEGÓCIOS E SUAS SOLUÇÕES. Por Marcos Hashimoto

Poucas áreas da Administração ganharam tanta repercussão e interesse nos últimos anos quanto empreendedorismo e inovação. Abrir um negócio próprio tem deixado de ser alternativa de quem não gosta de estudar para se tornar uma opção viável de carreira bem-sucedida.

Neste contexto, o crescimento do interesse no assunto acompanha proporcionalmente as dúvidas sobre o real significado da atividade empreendedora, sobretudo na discussão de dilemas típicos que acontecem no mundo empreendedor que as escolas não estão ainda preparadas para responder. Neste artigo apresento alguns exemplos de dilemas típicos e possíveis soluções que podem ser aplicadas em diversos tipos de empreendimentos.


1) Dilema do negócio social. Negócios sociais não são empresas tradicionais do segundo setor. Tampouco são empreendimentos com fins exclusivamente sociais do terceiro setor. Negócios sociais podem perfeitamente estar inclusos na categoria Setor 2,5, ou seja, negócios com fins lucrativos, mas que detém em parte importante da sua missão um impacto social ou ambiental positivo. A Solidarium, do empreendedor Tiago Dalvi, vencedor do Prêmio Empreendedor de Sucesso da Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios no final do ano passado, teve um dilema relacionado com este posicionamento no setor 2,5. O que acontece quando uma oportunidade de negócio bastante lucrativa entra em conflito com o benefício social que deveria gerar? Este foi o dilema da Solidarium ao ter que decidir continuar ou não um negócio com uma empresa que lhe fornecia material reciclado para confecção de bolsas. Um fornecedor que não esteja alinhado com os princípios da distribuição de renda justa ao longo da cadeia de valor não é de interesse da Solidarium. Mas esta mesma empresa lhe abriria condições muito interessantes de novos negócios em cadeias varejistas grandes como a Wal Mart. Vale a pena perder boas oportunidades de negócio para não abrir mão de seus princípios? Os fins justificam os meios? No final das contas, Tiago decidiu manter seus princípios e não se arrependeu. Embora tenha demorado um pouco mais do que esperava, com o tempo acabou encontrando alternativas que geraram os mesmos resultados, mas dentro dos princípios esperados.


2) Dilema intra-empreendedor. Empreendedor não é só quem abre um negócio próprio, podem ser também negócios iniciados por funcionários em empresas já existentes. A discussão sobre este tema gira em torno da motivação que certos funcionários têm de iniciar um novo empreendimento para o seu empregador, muitas vezes em troca de nada. Porque eles fazem isso? Trata-se do caso de um jovem analista de sistemas que desenvolve, por conta própria, um sistema de help-desk para resolver os problemas que seus amigos, que trabalham no setor de atendimento da mesma empresa, enfrentam por não terem uma ferramenta apropriada para gerenciar os chamados recebidos. Contra todos – inclusive seu chefe - que diziam que ele não tinha que ficar inventando nada e sim se manter ao seu cargo e posição, fazendo o que mandam apenas. Sua determinação o levou a trabalhar no projeto sem ajuda, dedicando seu tempo livre para desenvolver e testar o sistema. Ele quase foi despedido por sua impertinência e desobediência, mas no final, sua realização foi tão relevante que o sistema não só resolveu os problemas internos da área, mas se tornou mais um produto da companhia, tendo ele como sócio deste novo negócio. É uma história cujo final é raro nos ambientes organizacionais, pois as pessoas são normalmente penalizadas por tentar fazer algo diferente sem autorização e os chefes não costumam tolerar funcionários com autonomia e que assumem riscos por conta própria.


3) Dilema da gestão. Uma das causas mais comuns de fracassos de novos empreendimentos, segundo pesquisa do Sebrae, é a falta de planejamento e competência em gestão. Os cursos de Administração de Empresas e de Gestão de Negócios estão em alta entre pequenos proprietários de empresas porque os empreendedores não querem mais se sujeitar à aventura do improviso e do jogo de cintura para lidar com os imprevistos. Alguns empreendedores, entretanto, não pensam assim, acreditam que pensar demais paralisa, planejar demais gera medo e que a atitude empreendedora é, acima de tudo, a capacidade de realização. Walter Mancini é um destes empreendedores. O império gastronômico que construiu na Rua Avanhandava, em São Paulo, é seu principal argumento. Sua história pessoal, de superação, de fracassos seguidos e dificuldades financeiras também dá muita credibilidade ao seu jeito de pensar, decidir e agir. Walter é destes empreendedores que tomaram cada experiência pessoal como rico aprendizado, muito mais rico do que poderia obter de um banco de escola, e depois de ter sido duramente forjado por tais vicissitudes, toma cada decisão fundamentado nesta experiência, de forma intuitiva e subjetiva. As técnicas e ferramentas que as escolas de gestão são importantes? Sim, fundamentais e imprescindíveis em muitos casos, sobretudo quando o empreendedor não possui esta intuição que Walter goza e usufrui com tanta propriedade. Empreendedores como Walter são raros, únicos, exceções à regra e a regra é: A maioria de nós, que infelizmente não têm este dom, precisa sim, e muito, das racionais e positivistas teorias de como se administra um negócio de sucesso.


4) Dilema da inovação. Muito do que ouvimos falar hoje sobre inovação gira em torno da ciência e da tecnologia. Nada mais natural, uma vez que os avanços nestes campos é que dão maiores chances de geração de inovações radicais e de alto impacto. Talvez por este motivo, a indústria de Venture Capital, ou capital de risco, esteja fortemente embasada neste tipo de inovação, que tem mais chances de gerar negócios de rápido crescimento. O que ainda não sabemos é se este mercado de investimento de risco já está sensível ao potencial de negócios que não necessariamente trazem grandes inovações, mas inovações incrementais de processos produtivos, porém altos ganhos para o ambiente, pelo forte apelo de sustentabilidade. Este é o caso da Ecoplast, que fabrica compostos de plástico com fibras naturais que substituem com perfeição qualquer produto baseado em plástico ou madeira, pois consegue reproduzir o melhor das propriedades de cada material: a durabilidade e flexibilidade do plástico com a consistência e aparência da madeira. Para quem conhece o segmento, sabe que o produto em si não é inovador, já existem muitas empresas que fazem isso. O mérito dos empreendedores por trás da Ecoplast, Débora Bonato, Marcelo Albernaz e Plínio Akamine está no processo produtivo. Eles desenvolveram uma técnica que melhora a eficiência no processo produtivo, não só reduzindo os custos operacionais, mas permitindo o uso de uma variedade maior de fibras naturais na composição, como bagaço de cana, casca de arroz e casca de coco. Apesar da inovação, os empreendedores não conseguem levantar os fundos necessários para montar o negócio, porque os investidores têm ofertas melhores de negócios baseados em inovação de alto impacto. A saída foi dar um novo direcionamento ao seu plano de negócio e seu discurso de venda, ressaltando o fato de que o novo processo contribui para o uso de fibras naturais, antes desperdiçadas em atividades de baixo valor, como fornos de biomassa, para serem reinseridas na cadeia de valor na forma de produtos acabados, ou seja, um apelo muito mais forte no argumento da sustentabilidade do que na inovação em processo.


5) Dilema do capital de risco. A despeito do crescimento da indústria de capital de risco no mundo inteiro, sobretudo em economias emergentes com o Brasil, que surgiu como opção muito atrativa à crise econômica internacional, a disponibilidade de fontes de recursos financeiros de risco para startups ainda é muito abaixo do que a demanda do mercado. Isso fez com que empreendedores endeusem os investidores de risco além do recomendável. Indo contra esta maré, surge o Chaps.com, um negócio de vendas de capítulos de livros pela internet especializado no mercado de livros textos acadêmicos. Os cinco empreendedores conceberam o negócio em meio ao primeiro grande ‘boom’ das empresas de internet, no final da década de 90, a tão propalada ‘nova economia’ que despertou o mundo para o investidor de risco, ou venture capitalists. Ao escrever o plano de negócios, estes empreendedores se deram conta que o negócio deles era tão interessante e tão atrativo, que escolheram o modelo de financiamento por débito ao invés de equities. Isso significava que eles pediriam dinheiro ao investidor com uma promessa de retorno com base em uma taxa de remuneração pré-estabelecida, totalmente contrária à lógica do investimento de risco, no qual o investidor entra com um forte aporte financeiro objetivando alto e rápido crescimento para um retorno muitas vezes a mais do valor investido como recompensa de ter compartilhado o risco com o empreendedor. Na visão dos sócios, o negócio era de baixo risco. O plano de negócios mostrava que sob todos os cenários, mexendo em todas as variáveis e diante dos diversos riscos, o negócio sempre seria altamente lucrativo. Portanto, porque dividir os altos lucros se o risco de fracasso seria baixo? Diante desta lógica, os empreendedores foram bater na porta dos investidores com este plano de negócio. Apesar da promessa de retorno ser alta, os investidores não se interessaram porque a lógica deles é baseada no modelo de equities, ou seja, uma participação no negócio, que seria vendida algum tempo depois para realizar os ganhos. Resultado: a busca foi infrutífera e, quando se decidiu abrir mão dos ganhos para conseguir captar um investimento, deu-se a quebra da Nasdaq, o ‘estouro da bolha da internet’, quando então os fundos de capital de risco caíram em si da insanidade do mercado de risco e subitamente, como a síndrome do gato escaldado, interromperam todos os investimentos em startups, redirecionando seu foco em negócios já estabelecidos, com o mínimo de ativos como lastro de segurança. Com esta mudança de postura, o Chaps.com, que só existia no papel, enterrou de vez suas pretensões empreendedoras.



Marcos Hashimoto
É consultor, professor da ESPM e um dos autores do livro Práticas de Empreendedorismo: Casos e Planos de Negócios, Editora Elsevier.
Fonte: Época Negócios Online.

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