A todo momento a imprensa especializada alardeia o crescimento exponencial da publicidade via Internet. As notícias vêm acompanhadas, muitas vezes, de profecias de dominação e sombrias previsões quanto à morte da mídia tradicional - leia-se TV, rádio e jornais.
PARÊNTESE: Comentei esses dias, a um preocupado pseudoanalista, que a TV jamais vai acabar no Brasil. Enquanto tivermos um povo que adora novelas, Big Brother, trocas de apresentadoras de telejornais e fofocas em geral, o poderio televisivo está garantido. Algo que provavelmente não mudará nesta década, a julgar pelo ritmo da imbecilização nacional. FECHA.
Como em muitos casos semelhantes, no entanto, o rápido aumento na quantidade é acompanhado por uma queda proporcional na qualidade. Grande parte dos anúncios veiculados na Internet é simplesmente pavorosa! Os conceitos são horríveis, os textos são medonhos e, não raro, o produto que se vende é uma tranqueira ou é algum tipo de golpe. Ou tudo junto. Então vamos à diversão, apenas com anúncios do Facebook:
1 - Muitos anúncios contam com a infinita ingenuidade do internauta, como é o caso deste site de compras coletivas de algum obscuro país latino. Como tantos outros, faz propaganda enganosa vendendo produtos que não existem, ou cujos valores reais - preços e/ou descontos - não tem nenhuma relação com o que foi anunciado. Isso quando o produto existe, de fato.
Desde a URL em espanhol ao conteúdo do site, tudo parece escrito por um tradutor online, bem vagabundo. Como chamariz, histórias bem engraçadas como a do rapaz que usa a churrasqueira comprada no site para fazer "churrasco de cachorro, porque gato é muito difícil de pegar". Bastante apropriado, pois não?
2 - Esse aqui é uma pérola! "Imagine um futuro onde você se sinta à vontade com o seu peso, sua gorda!" Claro, quem acrescentou o finalzinho fui eu, mas nem era preciso, né? Que tal um anúncio que diz que você não cabe nas suas roupas?O site, surpresa!, fala de um produto milagroso que vai fazer você, sua gorda, emagrecer sem esforço algum. Evidências pseudocientíficas atestam a veracidade das afirmações, apoiadas num registro da ANVISA que não existe e respaldadas por links de reportagens que vão dar em lugar nenhum.
Atestando a eficácia dos produtos, há testemunhos de moçoilas que, curiosamente, estampam suas fotos mas identificam-se por iniciais. Aliás, algumas delas parecem não ter feito o tratamento completo...
3 - Já este é um pouco mais sutil. Vale-se de uma pegadinha que funciona, mas gente chata como eu torce o nariz para essas coisas. O catch é que o anúncio levanta a dúvida se você é um homem ou um menino e aí te desafia a fazer o teste. Mas, para fazer o teste, é preciso Curtir a página.
Dependendo do briefing que a agência recebeu, a ação tem tudo para ser um sucesso. Se o KPI da campanha é conseguir muitos seguidores, parabéns.
A diferença é que o número não retrata quantos fãs a bebida tem, mas quantas meninos estavam na dúvida se já tinham virado homem. (Claro, porque se está na dúvida é porque é menino ainda...)
Afinal, é preciso ser bastante homem para tomar esse troço amargo, né? Vai ver essa é a mensagem subliminar da campanha...
4 - E era questão de tempo até a bandidagem acadêmica mostrar que também está interessada nos pilantras do Facebook. O que faz todo sentido, aliás, porque se o cara fica o dia todo na rede social, não vai ter tempo de fazer o seu TCC, que dirá monografia ou tese. Então ele compra uma!
Arrisco-me a dizer que os publicitários que escreveram este anúncio, provavelmente fizeram alguma espécia de permuta com o dito site... Isso considerando que algum tenha um diploma de qualquer coisa.
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Sobre o título do texto, bom, sinto muito, mas se o que você está vendendo é ruim ou se o briefing está capenga, não tem muito o que fazer. Mas você pode continuar sendo honesto, escrevendo direito e evitando ofender seu cliente. Não é tão difícil assim.
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Mestre em Administração pela PUC-RJ; Pós Graduado em TI pela FGV-RJ; Bacharel em Comunicação Social pela UFRJ.
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