quinta-feira, 11 de agosto de 2011

AH, SE OS PROFESSORES SOUBESSEM! Por Professor Pachecão.


A escola é lugar de transformação. Para alguns, a escola é a própria vida. Viver é aprender, aprendemos com os amigos, com os professores, com os pais e com todos aqueles que encontramos pelo caminho. E todo esse aprendizado é importante e acontece a todo momento. Basta interagir para aprender. São os relacionamentos com pessoas diversas que nos ajudam a construir nosso sistema filosófico, o que é de fundamental importância, pois nossos problemas não são apenas psicológicos, neurológicos ou físicos; também são filosóficos. Para isso precisamos estudar, ler e entender os filósofos, principalmente Sócrates, Platão e Aristóteles.

Quando adolescente era inseguro, um varapau esguio e feio. Me achava menos capaz que os outros e era fortemente incerto de minhas capacidades. Convivendo com meus alunos constatei ao longo desses 25 anos que quase a totalidade deles também era assim, será que é o mal da idade? Pois bem, ser assim me deixava apático e indiferente.
Não queria estudar, não queria ter e nem ser nada. Era mal-humorado e vivia solitariamente. Minha timidez beirava a doença. Nas aulas não apreendia nada, calado entrava, calado ficava e calado saia. Voava a aula toda, desinteresse total, minhas notas eram horríveis, o que me colocava entre os piores alunos da sala. Quando minha nota era um pouquinho acima da média, o professor desconfiava e recontava os pontos pensando que havia cometido algum erro na soma. Em sala, sentava do meio para trás; enfim era a referência do mal.


Conversava com pouquíssimos colegas, principalmente aqueles que se identificavam comigo, os esquecidos e desenturmados. As meninas fugiam de mim como se eu estivesse saindo de uma usina nuclear, como se eu fosse um dos reatores danificados da usina de Fukushima depois do terremoto do Japão; algo como uma cápsula de césio com pérfidas e letais emanações.

Era mais carente que o homem das cavernas. Na minha escola havia um jornalzinho que narrava os acontecimentos do mês. Todos os nomes da minha e das outras turmas apareceram lá, exceto o meu. Meu nome nunca frequentou aquelas páginas, nem nos rodapés, era como se eu não estudasse ali ou não existisse. Falavam dos namoros, dos professores e de algum evento de interesse dos alunos. Meu mundo era a escola, um mundo sem vida e desinteressante.

Durante uma aula de Português algo de diferente aconteceu. Essa matéria geralmente me levava para uma região entre Plutão e as fronteiras do Sistema Solar, mas em certo momento da aula retornei à Terra e aterrisei. Estava diante de uma professora que tentava explicar para nós alunos como as palavras se formam. A palavra pé-de-cabra havia fugido do seu vocabulário e só faltava mais este exemplo para esclarecer de vez a justaposição. Vendo-a em apuros, tentei ajudá-la, uma vez que, não só aquela palavra como o próprio objeto fazia parte do meu pequenino mundo de menino do interior. Ergui o dedo e com todas as forças de que dispunha, falei: pé-de-cabra, professora.

Seu olhar pela primeira vez cruzou com o meu, não aquele olhar inquisidor e amedrontador como o da maioria dos professores, mas um olhar carinhoso, cheio de afeto e gratidão. Suas palavras de agradecimento vieram junto com o olhar: Muito bem, parabéns! E sorriu. A sala toda se virou para mim. Fui o centro das atenções por um segundo. Me senti “o cara”. Fiquei mais vermelho que a bandeira da Rússia, meu corpo fervilhava, era como se milhões de agulhas me espetassem simultaneamente, não cabia dentro de mim, me senti maior que a minha sala, minha cidade, meu estado e meu País. Meu corpo chegou onde minha cabeça andava durante as aulas interessantes apenas para os meus professores, na periferia da Via Láctea.

Aquela professora se esqueceu disso, mas eu nunca esqueci. Isso fez toda a diferença. Queria eternizar aquele momento. Passei a estudar e ter as melhores notas da sala. Jamais perdi um ano. Fui aprovado em todos os outros e olha que eu estava apenas na quinta série e tinha a idade de 11 anos.
O professor jamais imagina o que suas palavras e gestos significam na vida e na formação de seus alunos. Por mais insignificante que o gesto seja ele tem a força de uma hecatombe ou de qualquer evento sobrenatural.
A escola é de fato um lugar que transforma, mesmo quando seus atores não tem a real percepção desta realidade. Ah, se os professores soubessem!
Forte abraço.


Professor Pachecão
Mineiro, natural de Laranjal, José Inácio da Silva Pereira, o Professor Pachecão, é sinônimo de alegria, criatividade, e irreverência.
Mais de Pachecão AQUI.

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