sexta-feira, 10 de agosto de 2012

POST 1762: EMPREENDEDORISMO E ARTES MARCIAIS. Por Marcos Hashimoto

Os fãs de esportes de luta dificilmente acreditariam, se consultados há um ano, que a Rede Globo passaria a transmitir as lutas nas noites de sábado desde Novembro do ano passado. Antes relegados a aficionados, esportes violentos não costumavam ter espaço em redes de ampla cobertura. Hoje, quem não conhece Anderson Silva? A popularização do chamado MMA (Mixed Martial Arts), mais conhecido aqui no Brasil como ‘vale tudo’, se deve muito à prática e disseminação mundial do jiu-jitsu brasileiro (cujos pioneiros foram os Gracie no final dos anos 80), mas é democrático o suficiente para acomodar o judô, o aikidô, o kung-fu, o boxe, o karatê e o muay-thai, justamente o que torna o esporte tão popular hoje.

O que pouca gente sabe é que sou faixa preta de Karatê, 1º Dan, esporte que pratico desde 1987, estilo Shotokan. Nunca tive interesse em competições, embora, na minha formação, tenha sido importante ter participado de algumas nos anos 90. Hoje pratico mais para manter a forma e, acima de tudo, o espírito. Assim como em todas as artes marciais, o corpo treinado não é nada sem a mente. O karateca bem preparado tem a mente em equilibro antes de qualquer coisa e para isso é preciso treinar o espírito, a essência desta arte milenar que vai muito além da luta e das competições. Desde o ano passado tenho estudado as relações entre a filosofia dos esportes de artes marciais e as características empreendedoras e aproveito o crescente interesse no MMA para contar o que aprendi com o Karatê:

Persistência: A derrota faz parte do aprendizado do karateca (praticante do Karatê). Ele precisa aproveitar suas derrotas para se erguer mais forte. A frustração da perda serve como alimento da perseverança e determinação. “se cair 10 vezes, levante-se 11”, é um dos lemas do Karatê. Assim como o karateca, o empreendedor também não tem medo de errar e fracassar. Ele também não desiste nunca e se mantém fiel e determinado a atingir seus objetivos.

Conjunto e equilíbrio: Dar um soco não é tão simples quanto fechar o punho e esticar o braço. Um soco potente é dado com todo o corpo, como resultado de um ombro bem colocado, que é empurrado pelo quadril, que é apoiado pela perna. Um conjunto bem equilibrado é que garante a força dos golpes. Da mesma forma, em uma empresa um negócio concretizado não é responsabilidade apenas do vendedor, e sim de todo um conjunto de pessoas e departamentos, que, em processos harmonizados e equilibrados, atuam juntos para o sucesso do negócio. O equilíbrio também se dá no ‘tandem’, região do baixo ventre que é o centro de equilíbrio do corpo. Todos os movimentos se originam com a força no ‘tandem’. Nas empresas, este centro de equilíbrio é a estratégia, que embasa todas as decisões e ações do negócio e em torno do qual giram os controles, os recursos e as pessoas.

Competitividade: O karatê é a arte da não agressão. O confronto deve ser o último recurso. Um karateca bem treinado pode ser mortífero e por isso, precisa conter o espírito de agressão. Seu treinamento mental exige a disciplina de não se deixar levar pelas provocações e manter a serenidade diante de ambientes agressivos e hostis. Da mesma forma, o empreendedor busca sempre a parceria e cooperação como primeira forma de interação com os concorrentes. O confronto direto é, para ele, o último recurso, pois ele sempre acredita que construir junto é melhor do que destruir um ao outro. O respeito e a cordialidade imperam em todas as relações pessoais e demonstram caráter e valores que devem prevalecer antes de contratos e regras nas comunicações e negociações, seja com clientes e fornecedores, seja com concorrentes e parceiros.

Auto-conhecimento: O principal adversário do karateca é ele mesmo. As barreiras que o impedem de se tornar mais eficaz e forte residem em sua própria mente. A prática do Karatê permite a descoberta de nossas limitações e fraquezas. Se treinado com afinco, logo descobrimos até onde podemos ir e o que não conseguimos fazer. Com este autoconhecimento podemos avaliar nosso progresso, o aprimoramento das competências e a redução dos erros. O empreendedor que se conhece é mais auto-confiante, pois sabe em que terreno pode atuar com facilidade e sabe quais esforços conduzir para superar seus limites e dificuldades. Por causa da auto-confiança, o empreendedor não precisa provar nada para ninguém. Não precisa se vangloriar pelo seu sucesso. Por isso é raro encontrar um empreendedor que se julgue empreendedor. Assim como o karateca é humilde o suficiente para admitir que, mesmo na faixa preta, ainda se considera um aprendiz, o empreendedor também é modesto a ponto de não aceitar que possui todas as características positivas dos empreendedores bem sucedidos e famosos e é por acreditar nisso que ele está sempre procurando se desenvolver e aprender, almejando sempre a perfeição.

Busca da perfeição: Um dos tipos de treino do Karatê é o Kata, que significa ‘forma’, uma seqüência de movimentos pré-definidos (são 26 Katas no estilo Shotokan) que simulam um combate contra lutadores imaginários. Assim como uma dança, o karateca pode aprender os movimentos de um kata em apenas um mês de treino. Por outro lado, podem ser necessários anos de treinos exaustivos até que os movimentos de um kata fiquem perfeitos. A perfeição e a melhoria são perseguidos constantemente, e ele sabe que nunca serão plenamente alcançados. A excelência é, para o empreendedor, uma jornada e não um destino. O empreendedor também é um curioso nato, com fome insaciável pelo aprendizado. Por mais que aprenda e se desenvolva, sempre acha que pode melhorar mais, tanto a si mesmo como o seu negócio. A melhoria é, para o empreendedor, um processo sem fim.

Visão: Para quebrar uma telha ou uma madeira, o karateca é treinado para concentrar seu foco de visão para além do objeto que deve quebrar. Visualizar seu soco atingindo apenas o objeto não é o mesmo que visualizar seu soco atravessando o objeto. Para obter o resultado desejado, é preciso ‘ir além’ do objetivo, pensar mais adiante, mais além da meta. É esta visão que também fortalece as competências empreendedoras. O empreendedor aprende a construir uma visão muito mais ampla do que seus objetivos, muito além dos seus limites, distante e até inalcançável, mas sempre um parâmetro de inspiração para sempre superar seus limites e restrições.

Paciência e esforço: É preciso muito treino para se tornar um faixa preta. Pelo menos cinco anos ininterruptos para então descobrir que o verdadeiro Karatê começa na faixa preta. Para dar um bom chute ou um soco bem feito, é preciso repetir dez mil vezes o golpe de forma correta até entender e incorporar a biomecânica do golpe. Em uma situação de luta, é preciso saber esperar o momento certo para aplicar certos golpes e é preciso muito treino para aplicar o golpe mais apropriado e de forma correta no meio da luta. O karateca sabe que o treino é exaustivo para que, na hora da necessidade, ele não precise pensar que golpe usar, mas que o mesmo venha de forma instintiva e automática. Da mesma forma, o empreendedor precisa treinar sua paciência para executar sua estratégia e manter o sangue frio diante de circunstâncias desfavoráveis para o negócio. A prática de vivenciar situações de crises é que vai fortalecê-lo cada vez mais. Tanto para o empreendedor como para o karateca, o esforço extenuante, o cansaço e a rigidez só servem para cimentar sua determinação, lapidar sua força de vontade e forjar seu caráter e espírito de luta.

Oss!
Para saber mais, consulte:

Por Marcos Hashimoto é professor de empreendedorismo da ESPM, consultor, palestrante e um dos autores do livro Práticas de Empreendedorismo: Casos e Planos de Negócios, Editora Elsevier. 

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