domingo, 18 de setembro de 2011

JAC MOTORS X BR MOTORS. Por Rodolfo Araújo.

Tomei emprestado do amigo Pierre Lucena parte do título deste post, fazendo alusão ao lúcido texto do Acerto de Contas, JAC Motors X incompetência nacional. Em seu blog, o futuro reitor da UFPE destaca o verdadeiro alvo da covarde medida do Governo que aumenta o IPI sobre autopeças: a JAC Motors.

Sem nenhum pudor, o Ministério da Fazenda revela querer frear o acelerado crescimento das vendas de carangos chineses no país - recado mais do que direto ao Carrão do Faustão.

Sugiro, inclusive, que se refiram à medida como o Imposto JAC Motors.

Em recente artigo, escrevi que a indústria nacional passaria, em breve, por um choque de produtividade, já que a concorrência externa - asiática, principalmente - não deixaria pedra sobre pedra na incompetente indústria nacional, historicamente apoiada no binômio altas marges e baixa produtividade/competitividade.

 - Ô lôco, meu! Esse Governo é do tempo em que
"agasalhar o croquete" era somente aquecer a iguaria...



Mas eis que o Governo já reage a este possível futuro - sombrio para o cartel automobilístico, porém saudável para o resto do país - da maneira que mais lhe agrada ou, talvez, a única que conheça: aumentando impostos.

Não é preciso ser sócio da Ernst & Young para deduzir que o efeito em cascata da medida será diminuir a competitividade e, assim, dificultar a concorrência. Não é preciso, sequer, ser estagiário da Ernst & Young para concluir que haverá aumento generalizado de preços, tanto de importados quanto de nacionais.

* * * * * * * * * *

Muitos apoiam a medida dizendo que é necessária para proteger a indústria nacional e, desta forma, permitir que ela cresça e se desenvolva. Sejamos honestos: o protecionismo vigorou por décadas e o resultado foram modelos antiquados, tecnologia obsoleta e produtividade paleolítica. Somente com a abertura do mercado, no Governo Collor, os fabricantes locais se coçaram, ao sentir a água bater na bunda.


Outros argumentam, ainda, que os carros chegam baratos aqui porque são fabricados por mão-de-obra escrava do outro lado do mundo.

Ora, o noticiário recente deixou bem claro que o trabalho escravo está bem mais perto do que se imagina - e, nem por isso, os preços das empresas flagradas nesta prática são baixíssimos.

Além disso, o custo da mão-de-obra não é tão relevante assim na composição do preço de um carro, em tempos de fábricas altamente robotizadas. Meu carro, por exemplo, foi fabricado na Bélgica e custa o mesmo do que um concorrente nacional na mesma categoria, com IPI e tudo. Será que os metalúrgicos belgas ganham menos do que seus companheiros do ABC ou de Xangai?

Essa esfarrapada desculpa - custo da mão-de-obra, escrava ou não - está no mesmo nível da onipresente muleta dos impostos, segundo a qual automóveis custam caro por causa da carga tributária.

As montadoras, através da ANFAVEA, escondem-se sob este manto que há décadas ilude o consumidor brasileiro, acostumado a comprar o carro mais caro do mundo, o computador mais caro do mundo, a TV mais cara do mundo, o celular mais caro do mundo.

Este tema é tratado de forma brilhante em Predictable Surprises: The Disasters You Should Have Seen Coming, and How to Prevent Them, de Max Bazerman, no qual o autor revela o lado obscuro do protecionismo.


Segundo Bazerman, quando o Governo institui um imposto, alíquota ou subsídio para proteger determinada indústria local, cobra a conta de toda a população, em nome do segmento protegido.

Seguindo esta lógica, uma minoria barulhenta vai impondo penalidades à maioria que, de pouco em pouco, sustenta uma aberração pouco saudável para a economia: setores pouco competitivos, indústrias atrasadas e cartéis e oligopólios protegidos sob a égide de um bem maior. Na ponta do lápis é uma conta que não vale a pena pagar.

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Ainda assim, a indústria automobilística nacional nunca vendeu tanto carro. À vista ou em 60 meses, com os juros mais altos do mundo, que pagamos certos de estarmos fazendo um negócio da China - aliás, esta expressão perdeu completamente o seu sentido, já que os negócios da China estão sendo todos tributados.

Enquanto isso, é possível comprar o mesmo carro vendido aqui por quase a metade do preço no México, no Chile ou na Argentina. Desta vez, ao menos, nossos hermanos rirão por último.

Rodolfo Araújo
Mestre em Administração pela PUC-RJ; Pós Graduado em TI pela FGV-RJ; Bacharel em Comunicação Social pela UFRJ.
Mais de Rodolfo Araújo AQUI


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