Já faz algum tempo que venho questionando esta falácia do milagre econômico brasileiro:
Em Mercado Livre, Livre de Concorrência (13/04/2011) mostrei como a reserva de mercado ancorou os preços de algumas categorias de produtos em patamares tão altos quanto irreais. Nosso magnífico governo não deixou que eu mentisse sozinho e em JAC Motors X BR Motors (17/09/2011) lembro como esta insidiosa prática permanece em voga, mesmo após a suposta queda das tal política protecionista.
Bolha que estoura lá, estoura cá (24/06/2011) destaca que o Brasil anda na contramão do mercado imobiliário mundial, valorizando irracionalmente os imóveis apoiado na mesma especulação financeira que desencadeou uma crise de proporções bíblicas. Depois, O próximo desastre da produtividade (26/07/2011) adverte que as altíssimas margens de lucro aqui praticadas em breve quebrarão a indústria nacional, assim que a enxurrada de importados tornar-se inevitável.
Pois bem, eis que a The Conference Board solta um compêndio sobre os índices mundiais de produtividade. Olhando os números, fica realmente difícil acreditar no futuro brilhante do nosso país.
Um dos relatórios mais vexatórios é o de Produtividade por Empregado (LP-person EKS) - uma simples divisão do Produto Interno Bruto do país, pela sua População Economicamente Ativa. O gráfico abaixo fala por si só:
Clique para ampliar!
O Brasil do pré-sal está num empate técnico com o Equador, o conhecidíssimo país que divide o mundo ao meio. O gigante em berço esplêndido, palco da próxima Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, por outro lado, dá uma surra homérica na Bolívia e suas lhamas. Tremendo orgulho!
Obviamente que uma média simples como esta fica sujeita a alguns sérios desvios. Dois deles estão no gráfico: Índia e China, cujo denominador na casa do bilhão joga o número lá embaixo. Mas o que este gráfico não mostra é que estes países multiplicaram seus índices por 4,5 e 12,7, respectivamente, nos últimos 50 anos, enquanto que o Brasil mal dobrou o seu (2,2).
À título de comparação, o índice americano é US$ 105.969 e os de outros países desenvolvidos são: Noruega US$ 103.678, Irlanda US$ 97.912, Bélgica US$ 94.531, Austrália US$ 90.809, França US$ 85.994, Reino Unido US$ 81.709 e Japão US$ 73.515.
O país do futuro perde feio para as nações mais quebradas do presente: Espanha (US$ 78.394) e Grécia (US$ 65.941). Dos países europeus, Portugal (US$ 49.609) está à frente apenas da Turquia (US$ 42.837), o que deve explicar muita coisa em termos históricos.
Muitos teóricos da Administração afirmam que a Produtividade guarda estreita relação com a Inovação, que melhora os processos de geração de riqueza e permite a produção de itens com maior valor agregado. Estes números põem em xeque, portanto, outra grande falácia que teimamos em bradar de forma ufanista: a de que somos um povo muito criativo e inovador.
Agora eu pergunto: que estranha ilusão mundial vai manter investimentos num país que tem uma das piores taxas de produtividade e ainda pratica preços exorbitantes? Quando é que nos daremos conta de que este milagre econômico é um sonho pagão?
Antes que você rotule meu texto de pessimista ou negativo, adianto que o escrevo com o grande pesar que a realidade obriga. Estamos na histeria coletiva de eventos multibilionários que têm tudo para fazer com que um país à beira do abismo dê um passo à frente.
Não devemos esquecer, ademais, que esta produtividade risível é corroída pelos juros mais altos do mundo, dissolvida por uma das maiores cargas tributárias do planeta e esmerilhada pela quadrilha de políticos mais corrupta do universo.
E, last, but not least, infelizmente não contamos com um povo à altura dos gregos e argentinos, que vão para as ruas carregando lindíssimas bandeiras, em comoventes demonstrações patriotas. Fazemos nossos protestos pelo Facebook, esperando que o Mark Zuckerberg ajude-nos a salvar o Brasil.
Então, que tal deixar de conversinha e trabalharmos de verdade, como seu Deus não fosse brasileiro?
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Se você quiser sofrer um pouco mais, pode baixar aqui a planilha de Excel completa, com os dados do relatório: TEDI_Jan20121.xls. Aproveite e confira seu eu copiei direito os números. Obrigado.
Mestre em Administração pela PUC-RJ; Pós Graduado em TI pela FGV-RJ; Bacharel em Comunicação Social pela UFRJ.
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