Os países Brics ganharam 34 novos bilionários em 2012, segundo o ranking da
revista americana Forbes, e o perfil destes empresários revela uma maior
diversificação das economias de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Enquanto os primeiros bilionários do grupo que despontaram na lista da Forbes
refletiam setores tradicionalmente fortes dessas economias, como petróleo,
mineração e indústria, as novas fortunas vêm se criando nesses países em ramos
como varejo, telefones celulares, eletrodomésticos e alta tecnologia.
"Todos os cinco países dos Brics, em diferentes níveis, caminham para ter uma
economia mais diversificada. O processo de crescimento desses países acaba
evitando que virem uma Arábia Saudita, que depende de apenas de um setor", disse
à BBC Brasil o codiretor do Grupo de Pesquisa dos Brics, John Kirton, que
participa da Quarta Cúpula dos Brics, em Nova Déli, na Índia.
"Eles, com o tempo, tendem a se assemelhar mais a uma economia como a dos
Estados Unidos."
PADRÕES DE CONSUMO
A emergência da classe média nos Brics também vem mudando os padrões de
consumo e impulsionando novos setores.
"O Brasil, por exemplo, passa por um período da fase de crescimento que está
fortemente impulsionado pelo consumo doméstico, das classes média baixa e
média", disse à BBC Brasil João Pontes Nogueira, supervisor geral do Brics
Policy Center, uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro e da PUC-RJ.
O surgimento da chamada "nova classe média" brasileira se reflete em alguns
dos nomes que entraram para a lista de bilionários da Forbes em 2012.
Entre os seis novatos brasileiros está José Isaac Peres, dono da
empreendedora de shopping centers Multiplan, que multiplicou sua fortuna devido
à alta das ações da empresa, um reflexo do boom de shoppings no país atribuído
ao surgimento da nova classe média brasileira.
Outro novo nome do Brasil na lista é o de Nevaldo Rocha, dono da Guararapes
Confecções e da loja de Departamentos Riachuelo, que a Forbes compara à gigante
espanhola Zara.
Lírio Parisotto, que começou sua fortuna nos anos 80 com a empresa Videolar,
que fabricava fitas-cassete e de vídeo, também estreia na lista neste ano. Hoje,
o bilionário também tem ações nas áreas de eletricidade, mineração, aço e
financeira.
Entre os Brics, o Brasil foi o único país a aumentar o número total de
bilionários de 2011 para 2012. Os 30 brasileiros que já estavam na lista,
encabeçada pelo empresário Eike Batista, permaneceram e seis novos nomes foram
adicionados.
Já Rússia, Índia e China tiveram uma redução no total de bilionários de seus
países (30 fortunas a menos, na soma dos três países), já que muitos empresários
sofreram com a crise e acabaram caindo da lista, enquanto alguns conseguiram
entrar para o seleto grupo de bilionários pela primeira vez.
CHINA
A China tem 15 novos bilionários neste ano, em setores que vão de mineração,
imobiliário a farmacêutico, automotivo e têxtil.
"A China tem um esforço centralizado para sair dos setores muito voltados
para exportação, e que fazem uso de mão de obra barata, e transitar para setores
que agregam mais valor, com mais tecnologia e know-how", diz Pontes Nogueira.
A cofundadora da Jingyountong Technology, Fan Zhaoxia, passou a fazer parte
do seleto grupo da Forbes após a abertura do capital da empresa, que fabrica
equipamento fotovoltaico usado pela indústria de energia solar.
Já o executivo Yan Zhi, do setor de desenvolvimento imobiliário, conseguiu
entrar para o clube de bilionários aos 39 anos de idade. No ano passado, ele
comprou 75% da companhia CIG Yangtze Ports, que administra portos em Wuhan,
capital da província chinesa de Hubei. Sua participação agora vale cerca de US$
40 milhões.
Segundo John Kirton, do Grupo de Pesquisa dos Brics, isso reflete o fato de
que os novos bilionários desses países também tendem a ser mais jovens que os
bilionários do G7.
"Os novos bilionários russos são uma geração mais novos que (jovens
bilionários conhecidos) como (Bill) Gates ou (Warren) Buffet. Acho que estamos
vendo uma nova geração de jovens empresários nos Brics."
A Rússia também tem um jovem bilionário. Maxim Nogotkov, de apenas 35 anos,
começou a vender seus programas de computador quando ainda estava na escola.
Daí, ele evoluiu para telefones sem fio e acabou abandonando os estudos para se
dedicar aos negócios.
Hoje, Nogotkov é dono da segunda maior rede de lojas de telefones celulares
da Rússia e vem ampliando seus investimentos: ele também fundou um banco e tem
uma rede de joalherias.
Outras novas fortunas russas vêm dos setores de fertilizantes, gás e energia
e imóveis.
PERFIL PARTICULAR DA ÍNDIA
A Índia tem um perfil particular, segundo o supervisor geral do Brics Policy
Center.
"A Índia é um caso interessante. Há um crescimento importante da classe média
e alta, mas não há uma reducão significativa da pobreza. Há um dinamismo muito
grande na área corporativa, com grandes conglomerados que cresceram muito nos
últimos anos e que adotaram uma política agressiva de internacionalização."
Os dois novos nomes da Índia a entrar para a lista da Forbes em 2012
confirmam isso.
Um deles é o engenheiro mecânico Jamshyd Godrej, que dirige uma empresa que
fabrica móveis de escritório e eletrodomésticos, parte do conglomerado que
pertence à sua família.
O outro novo bilionário também faz parte da família Godrej. Rishad Naoroji,
que é fotógrafo e observador de pássaros, só entrou para o clube após receber
uma herança de sua mãe, que tinha participação no grupo Godrej, que tem empresas
que vão das áreas de tecnologia de ponta a bens de consumo.
A África do Sul, que só entrou oficialmente para os Brics no ano passado, tem
apenas quatro nomes na lista de bilionários.
O mais novo integrante do grupo é Christoffel Wiese, que entrou para a lista
em 2011 e é o diretor e principal acionista da rede de supermercados Shoprite, a
maior do continente africano.
As ações da empresa subiram 50% desde o ano passado, impulsionando sua
fortuna aos US$ 3,1 bilhões atuais.
FONTE: FOLHA
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