Em um intervalo de duas semanas assistimos a três eventos trágicos que ceifaram vidas: a garotinha atingida por um jet sky, a adolescente vitimada por um brinquedo em um parque de diversões e a ciclista atropelada por um ônibus. Embora eventos distintos, guardam correlações que merecem reflexão.
No caso da pequena Grazielly Lames, que pela primeira vez em seus tenros três anos de vida avistava o mar e pisava a areia da praia, chama-nos mais a atenção não o fato de o menor de 13 anos estar ou não conduzindo o veículo na ocasião, mas sim de ter fugido na companhia de sua mãe em um helicóptero, enquanto a criança aguardava 40 minutos por socorro. O egoísmo latente, a preocupação exclusiva com os próprios interesses e a negligência diante da responsabilidade pelo ato impediram que o mesmo helicóptero prestasse pronto atendimento à menina.
No evento do Hopi Hari, causa-nos indignação saber que o assento que vitimou Gabriela Nichimura estava inadequado para uso havia dez anos, sem que qualquer providência tivesse sido tomada. Porém, mais do que a omissão da empresa, a falta de liderança e comando, e o flagrante desrespeito às normas mínimas de segurança, foi repugnante ver o parque continuar suas atividades naquele dia fatídico e ainda abrir suas portas no dia seguinte como se tudo estivesse dentro da mais absoluta normalidade.
Por fim, a bióloga e pesquisadora Juliana Dias, que fazia da bicicleta seu meio de transporte, obedecendo às normas, à sinalização e portando os equipamentos de proteção devidos, sucumbiu após ser fechada por outro veículo que também se evadiu do local sem prestar socorro. Vítima da guerra pelo espaço urbano em uma cidade desestruturada que não consegue conferir mobilidade aos seus cidadãos.
Três eventos, três vidas que se foram prematuramente. Indícios de uma sociedade fragmentada, individualista e em franco processo de apodrecimento. Vivemos em um mundo com sete bilhões de pessoas, com acesso aos mais diversos recursos e à comunicação instantânea, mas paradoxalmente estamos cada vez mais isolados, encasulados, urgentes e inertes.
Isso me faz lembrar o planeta pós-apocalíptico retratado pelo diretor australiano George Miller em sua trilogia “Mad Max”, que alçou o ator Mel Gibson ao estrelato a partir de 1979. Mas aquele era um mundo de escassez, de luta pela sobrevivência e não um mundo de abundância como o que temos hoje.
É mais do que urgente resgatarmos alguns valores em nossa sociedade. Pais que não dialogam com filhos, vizinhos que não se conversam, colegas de trabalho que não compartilham experiências e preferem viver entrincheirados, evitando expor-se, ficando à espreita por uma oportunidade para dar o bote e subir um degrau a mais mesmo que em detrimento do outro.
Há uma atitude moral que precisa ser praticada, difundida e valorizada. Ela atende pelo nome de altruísmo.
Com formação em Publicidade pela ESPM e Economia pela USP, tem especialização em Marketing pela Madia Marketing School e em Qualidade de Vida no Trabalho pela USP. É mestre em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente pelo Senac.
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