Acabo de levar um duro golpe: não fui aceito no processo seletivo para o Doutorado em Administração da USP. Fiz as difíceis provas da ANPAD - nas quais fui bem - e as específicas da Universidade - nas quais fui bem mais ou menos. De qualquer forma, qualifiquei-me para a segunda fase. Elaborei o projeto de tese, reuni a documentação necessária e fui adiante, sendo classificado para a terceira fase, de entrevistas. Aí babou...
Dos onze candidatos, fui um dos quatro que não passaram. Não ver o seu nome numa lista de sete futuros Doutores é algo realmente desagradável, dadas as expectativas. Não importa quantas vezes você leia, seu nome não está lá. Então algo extraordinário aconteceu.
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Durante boa parte da minha vida fui considerado uma pessoa acima da média. Quem me acompanha há mais tempo aqui no Não Posso Evitar... sabe que não dou adepto da falsa modéstia, da humildade exagerada, tampouco do coitadismo.
Mas carregar o rótulo de pessoa inteligente tem seu preço: você não pode errar. Porque quando você erra, põe em dúvida seus títulos, suas conquistas, suas qualidades. Errar significa passar para o outro lado - do qual você definitivamente não quer fazer parte.
Ao menos enquanto você acreditar que a divisão entre os capazes e os incapazes é fixa, imutável, eterna. E esta é uma mentalidade limitante, é o mindset fixo.
Quem descreve muito bem esses tipos de pensamento é Carol Dweck, em seu imprescindível Mindset: The New Psychology of Success (Ballantine Books, 2007). Para ela, ter um mindset fixo significa acreditar que as pessoas têm uma capacidade intelectual finita, determinada, rígida. O que você é hoje, você será para sempre.
Por outro lado, ter um mindset de crescimento envolve acreditar no constante aprendizado, na eterna busca por melhoria, no desenvolvimento diário, em todos os aspectos da sua vida. E isso inclui seus revéses: o erro, a perda e o fracasso. A diferença é que você enxerga tais efeitos colaterais como mais uma etapa - e não como destino final.
Uma das piores consequências do mindset fixo é o medo de errar, porque ele se transforma em medo de tentar. Em O Iconoclasta, o psiquiatra americano Gregory Berns escreve que uma das principais características das pessoas que fazem o que os outros diziam ser impossível é a forma como elas lidam com o medo. Quantas vezes você deixou de enfrentar um desafio pelo simples medo de fracassar? Pelo medo de se expôr? Pelo medo de parecer - ou de se sentir - menos apto, menos inteligente?
Pois quando você tem o mindset de crescimento, você vê seu fracasso por outra lente. Ele faz com que você busque as razões do erro, analise em que aspectos precisa melhorar, em que pontos deve evoluir. Tivesse eu num mindset fixo, estaria chorando na cama, que é lugar quente.
Tempos atrás, confesso, é bem provável que fosse este o meu desejo no momento. Mas aprendi a encarar tais episódios de maneira bem diferente.
Melhor dizendo, escolhi encarar tais episódios de maneira diferente. E esta transição foi algo bem mais simples do que você pode imaginar.
Não estou feliz por ter fracassado porque, no fim das contas, isso ainda não acabou. Em vez de pensar que não passei, prefiro pensar que não passei ainda. O "ainda" faz toda a diferença. E vida que segue...
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Por favor, reserve seus comentários para o tema dos mindsets; evite condolências.
ATUALIZAÇÃO: A leitora Isabel Sales, do blog Contabilidade Financeira, lembrou-me do elemento que falta nessa equação: o esforço. É ele que faz a diferença na performance, independentemente do seu grau de aptidão para qualquer que seja a tarefa. Quem tem o mindset de crescimento reconhece no esforço o caminho para a melhoria. Já quem tem o mindset fixo, vê o esforço como uma comprovação de que você não tem o talento inato - que é um bom começo, mas não é tudo.
Mestre em Administração pela PUC-RJ; Pós Graduado em TI pela FGV-RJ; Bacharel em Comunicação Social pela UFRJ.
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