Quando alguém fala em infidelidade num casamento, o
que lhe vem à cabeça? A maioria das pessoas associa infidelidade à traição
sexual e/ou afetiva. Alguns mais engraçadinhos já imaginam um grande e vistoso
par de chifres na cabeça da “vítima” da traição.
Mas existe outro tipo de infidelidade, igualmente
comum, que pode parecer inicialmente inocente, mas que acaba tendo efeitos tão
destrutivos quanto as outras formas de infidelidade aparentemente mais
“chocantes”. Estamos falando da infidelidade financeira.
A infidelidade financeira acontece quando, em um
casal, um dos cônjuges (ou os dois) esconde informações financeiras do outro.
Podem ser coisas pequenas e aparentemente insignificantes, como comprar um
sapato novo e dizer para o marido que comprou em uma liquidação, por metade de
preço (ou ganhou de alguém), até algo mais sério, como ocultar por muito tempo
uma dívida gigantesca que compromete as finanças e o futuro da família.
Existem poucos estudos a respeito da infidelidade
financeira no Brasil, mas nos Estados Unidos é um fenômeno bastante conhecido.
Em 2011, o National Foundation for Credit Counseling fez uma pesquisa com
aproximadamente 1.400 pessoas e chegou à conclusão que um em cada quatro
entrevistados esconde ou já escondeu informações financeiras de seu cônjuge. Em
2005, uma pesquisa conduzida pela Harris Interactive apresentou resultados
ainda mais preocupantes: de 1.800 entrevistados, um em cada três já cometeu ou
comete infidelidade financeira.
A infidelidade financeira não se manifesta apenas pelo
lado “gastador”, com compras e endividamentos. Muitas pessoas mantêm reservas,
poupanças e “contas secretas” escondidas de seus cônjuges. Isso pode acontecer
por várias razões, como a desconfiança na capacidade de gestão financeira do
cônjuge (como aquela mulher que mantém uma “poupança secreta” para garantir o
conforto da família, imaginando que o marido “ousado” vai quebrar a qualquer
momento), ocultação de ativos antecipando um possível processo de divórcio ou a
necessidade pura e simples de ter uma “graninha extra” para poder usar sem dar
muitas explicações.
Cada casal tem suas próprias práticas e “políticas” em
relação ao dinheiro. Alguns casais adotam a separação absoluta e a completa
independência financeira dos cônjuges. Para esses, falar em “infidelidade
financeira” não faz muito sentido. Outros casais também optam por manter as
contas separadas, mas têm planos em conjunto e, nesse caso, algum grau de
transparência se faz necessário. Mas quando o casal opta por unir as contas,
qualquer deslize pode colocar tudo a perder.
Os efeitos da infidelidade financeira podem ser
catastróficos. Uma dívida que cresce descontroladamente pode acabar com o mais
apaixonado dos casais, e sabemos o quanto é fácil, aqui no Brasil, uma pequena
dívida virar uma encrenca milionária por falta de controle. Deslizes menores,
como a mulher que compra um sapato escondido ou o marido que põe a mão em parte
daquela reserva que está sendo poupada para um novo apartamento para comprar um
novo gadget eletrônico, podem
ter um impacto financeiramente pequeno, mas criam uma fissura perigosa na
confiança do casal, que pode abrir caminho para atos de infidelidade ainda
maiores.
Uma forma de desencorajar a infidelidade financeira é
o casal adotar um procedimento de planejamento e controle financeiro que
envolva os dois, sem essa de “largar” as finanças na mão de um único cônjuge.
Uma espécie de “reunião financeira mensal” onde o casal, em conjunto, revisa as
contas e os planos.
Mas é complicado falar em desencorajar a infidelidade. Confiança
é uma coisa complicada: ou ela existe ou não. Se um dos cônjuges sente que
precisa adotar medidas de dissuasão, talvez seja o caso de fazer uma análise
mais profunda dos valores e dos fundamentos nos quais a relação se apoia.
Texto publicado originalmente na EXAME
André Massaro
Administrador de empresas pós-graduado em economia.
Já foi executivo financeiro, consultor e investidor profissional.
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