O assunto não é novo, mas continua em pauta: com o sucesso cada vez maior de empresas como Apple, diversos políticos norte-americanos questionam o posicionamento delas, pois acreditam que tais companhias poderiam fazer muito mais pelo país se fabricassem seus produtos em solo estadunidense.
Falando especificamente da Apple, não temos como negar que o preço da fabricação de um iProduct em terras chinesas é inferior e que este é um dos grandes motivadores para adotar tal posicionamento. Mas engana-se quem acha que somente o preço é uma variável importante nessa equação.
Uma matéria do NYTimes.com, escrita por Charles Duhigg e Keith Bradsher — que entrevistaram diversos atuais e ex-empregados da Maçã, economistas, analistas, fornecedoras, entre outros —, trouxe novas informações sobre o assunto, afirmando que escala, velocidade, flexibilidade, diligência e qualificação são tão (ou mais) importantes que economia. Tais características, hoje, seriam impossíveis de serem alcançadas em fábricas instaladas nos Estados Unidos.
Um exemplo para isso foi um caso ocorrido em 2007, no lançamento do iPhone. Cerca de um mês antes do lançamento do smartphone, Steve Jobs convocou uma reunião e puxou um iPhone do bolso, mostrando a tela do aparelho para os presentes. O falecido cofundador e ex-CEO da Maçã não estava contente com os arranhões feitos por uma chave que, assim como o gadget, estava no bolso da calça. “As pessoas vão carregar esse telefone em seus bolsos. Elas também carregam suas chaves no bolso. Eu não vou vender um produto que fica arranhado. Eu quero uma tela de vidro, e eu o quero perfeito em seis semanas.”
Logo depois da reunião, um executivo voou para Shenzhen a fim de “consertar” o problema. Em menos de 30 minutos, cerca de 8.000 empregados devidamente alimentados com biscoitos e chás estavam prontos para turnos de 12 horas de trabalho, montando as telas de vidro nos aparelhos, conforme Jobs havia solicitado. Em 96 horas, a fábrica produzia 10.000 iPhones por dia.
Outro caso que exemplifica o atual cenário e a facilidade com que as coisas são resolvidas na Ásia: segundo um ex-executivo da firma de Cupertino, toda a cadeia de suprimentos está na China. “Você precisa de mil juntas de borracha? Basta bater na fábrica ao lado. Precisa de um milhão de parafusos? A fábrica para isso está a um quarteirão de distância. Quer que o parafuso seja um pouco diferente? Isso leva apenas três horas para ser feito.”
Não é à toa que a Foxconn, atual parceira da Apple na fabricação de iGadgets, é uma gigante mundial da indústria — estima-se que ela monte 40% de todos os produtos eletrônicos do mundo! De acordo com Jennifer Rigone, ex-gerente de suprimentos da Apple, na China, uma fábrica pode contratar 3.000 pessoas durante a noite. “Que fábrica nos EUA pode encontrar 3.000 pessoas durante a noite e convencê-los a viver em dormitórios?”
De acordo com cálculos dos executivos da Maçã, cerca de 8.700 engenheiros industriais foram necessários para supervisionar e orientar toda a linha de montagem do iPhone, na qual mais de 200 mil empregados trabalharam. Para contratar essa quantidade imensa de engenheiros, foram necessários apenas 15 dias — estimativas indicam que, nos EUA, demorariam 9 meses para encontrar todos os trabalhadores necessários.
Apesar da “pressão” do governo — para quem não lembra, um dos assuntos em pauta no jantar que reuniu o presidente dos EUA e líderes do setor de tecnologia era justamente esse: a criação de empregos para a classe média — alguns acham que trata-se de um caminho sem volta. O próprio Steve Jobs teria afirmado, no jantar, que “os empregos não estão voltando”.
Um executivo da Maçã, que permaneceu em anonimato, defendeu a decisão da empresa, afirmando que os produtos da Apple são vendidos em mais de 100 países e que a companhia não tem obrigação de resolver os problemas dos EUA: “Nossa única obrigação é fazer o melhor produto possível. Nós não devemos ser criticados por usar trabalhadores chineses. Os EUA pararam de produzir pessoas com as competências de que precisamos.”
Para Sarah Lacy (ex-editora do TechCrunch e fundadora do PandoDaily), o que o Vale do Silício representa para a criação de uma empresa (startup), a China representa para a criação de gadgets. Empresas sem qualquer know-how em produtos eletrônicos conseguem fabricar uma tablet em apenas seis meses (caso da NOOK, da Barnes & Noble). Alguns insistem na ideia de que a China só consegue fabricar produtos baratos e sem qualidade, e esquecem que uma das empresas mais respeitadas, e que mais valoriza a perfeição, fabrica seus produtos no país.
Alguns economistas acham que a economia dos EUA vai se adaptar, encontrando uma forma de substituir alguns desses empregos perdidos. Mesmo assim, diversos trabalhadores — especialmente os mais velhos — poderão ficar pra trás durante a transição.
Sem qualquer esperança de retomar os empregos, resta saber se o governo vai liberar a criação de um feriado de impostos, permitindo a empresas como a Apple que repatriem suas fortunas que estão em terras estrangeiras. Já seria algo bastante significativo.
[via AppleInsider, PandoDaily]
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FONTE: MACMAGAZINE
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