“Há razões que a própria razão desconhece”. Esta frase, tão surrada e batida, poderia ser um corolário para a disciplina da Economia Comportamental – uma área de estudo que contesta alguns dogmas da Economia Tradicional, segundo os quais todas as nossas ações são calculadas de forma racional, buscando maximizar nossos recursos.
Desde a década de 1980, no entanto, alguns estudos vêm mostrando que nosso cérebro não funciona bem assim. Um dos precursores desta nova corrente de pensamento é Daniel Kahneman, um psicólogo americano que, pelo conjunto de sua obra, recebeu o Nobel de Economia em 2002.
Em seu mais recente livro, Thinking, Fast and Slow (FSG, 2011), Kahneman explica alguns dos mais importantes equívocos que cometemos nos processos decisórios – especialmente aqueles que enganam nossa intuição. Um dos mais interessantes é um fenômeno conhecido como priming.
Engenhosos experimentos mostram como nossos atos podem ser inconscientemente influenciados por sugestões subliminares, sob a forma de palavras chave. Num deles, voluntários liam uma lista de palavras aparentemente aleatórias e, depois, caminhavam até uma outra sala distante, para uma outra fase do experimento.
O real objetivo do estudo, porém, era ver se a lista tinha alguma influência na velocidade com que as pessoas caminhavam. Uma das listas de palavras continha termos que faziam referência a pessoas idosas, como “aposentado” e “Flórida” (Estado americano com grande população de idosos), dentre outros.
Curiosamente, os voluntários que liam esta lista caminhavam bem mais devagar que os outros, que liam expressões mais neutras. Antes que você pense que isto é bobagem acadêmica ou algo irrelevante, adianto que é um dos fenômenos mais estudados em psicologia experimental e cujos resultados são sólidos e extensamente confirmados.
Pois uma das variações mais interessantes destes estudos mostra a influência de palavras que fazem alusão a dinheiro, riqueza e poder. Pesquisadores verificaram que, pessoas influenciadas por essas expressões tendem a ser menos prestativas e mais individualistas.
Numa das situações, voluntários precisavam posicionar duas cadeiras nas quais ela e uma outra pessoa se sentariam para uma discussão posterior. Aqueles que liam as palavras relacionadas com dinheiro dispunham as cadeiras muito mais distantes uma da outra, do que os que liam palavras neutras.
Noutra variação, após a leitura da lista, um assistente do pesquisador, disfarçado de voluntário, deixava cair no chão uma caixa de lápis, espalhando dezenas deles pelo chão. Os que liam palavras relacionadas a dinheiro ajudavam recolhendo bem menos lápis do que os que liam palavras neutras.
O que ambos os estudos sugerem é que este processo de priming, focado em dinheiro, faz com que as pessoas ajam de forma individualista, cuidando de seus próprios interesses, reduzindo qualquer inclinação de ajudar o próximo.
Tais resultados servem de alerta para uma sociedade onde os símbolos de riqueza e poder estão em todas as partes, em todos os lugares. Como os estudos verificaram, a onipresente exploração do sucesso e fortuna pode tornar-nos menos voluntariosos, menos generosos ou prestativos. Será que é isso que queremos, de verdade?
Mestre em Administração pela
PUC-RJ; Pós Graduado em TI pela FGV-RJ; Bacharel em Comunicação Social pela UFRJ.
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