Quem veio aqui atrás da última grande iniciativa ecológica que, além de salvar o planeta, está gerando fabulosos lucros a engajados empreendedores, putz, errou de endereço.
Este texto é sim sobre uma iniciativa que vai gerar bastante lucro e deixar alguém bem na foto. Mas está longe, muito longe de ser algo realmente impactante em nível ambiental. Positivamente, ao menos.
Se você costuma frequentar as lojas do Pão de Açúcar - ou sua rede mais humilde, a Qualitá/Taeq (não deveria ser este o nome, já que é o que te empurram lá dentro?) - deve ter notado os avisos informando que, a partir de 25 de janeiro, não haverá mais distribuição de sacolas plásticas gratuitas.
A iniciativa, segundo o folheto explicativo, é para não sufocar mais o planeta. Um belo gesto da empresa do politicamente correto Abílio Diniz, patrocinado por... você!
Veja a razão:
Da data citada em diante, o Pão de Açúcar deixará de distribuir (gratuitamente) sacolas plásticas e, em seu lugar, venderá as tais bolsas ecológicas, feitas de material reciclável e que podem (e devem) ser reutilizadas.
O grande problema desta iniciativa é que estaremos trocando uma embalagem pouco poluente por uma outra, muito mais poluente - além de muito mais cara. Se você estranhou a afirmação, então vamos aos fatos:
Em fevereiro de 2011 a Environmental Agency, um órgão oficial do Governo Inglês - e, portanto, britanicamente sério - publicou um relatório sobre um estudo comparativo entre os diferentes tipos de sacolas utilizadas para carregar compras de supermercado.
Textualmente, o relatório afirma:
Clique para ampliar!
Ou seja: "As sacolas convencionais de HDPE (polietileno) tiveram o menor impacto ambiental das sacolas leves em oito das nove categorias."
Mais adiante, o relatório aponta quem é o vilão:
Clique para ampliar!
Isto é: "As sacolas de poliéster tiveram o maior impacto em sete das nova categorias consideradas. (...) devido ao alto impacto da produção da matéria-prima, transporte e geração de metano nos aterros".
Se, ainda assim, você não se convenceu, porque vê grande importância na reciclagem do lixo para a confecção das sacolas, você não está sozinho. Os vietnamitas concordam contigo. Porque as sacolas vendidas no Pão de Açúcar são fabricadas lá no Vietnã. Estamos limpando um quintal alheio, do outro lado do mundo. Fora a poluição do transporte de lá para cá.
OK, você usa sacolas de algodão? Que ótimo, porque ela não é a pior de todas. É a segunda pior. A razão é que para ser ecologicamente viável ela deve ser usada, segundo o mesmo estudo, 173 vezes no mínimo.
Quem vai ao mercado uma vez por semana, tem que levar a mesma sacola de algodão, branquinha, durante pelo menos três anos, três meses e duas semanas para valer a pena. Sem lavar, porque sacolas plásticas não precisam ser lavadas. Bom, se você é um ecologista xiita isso não deve ser problema, porque higiene não é mesmo o seu forte...
No meu caso, sempre utilizei as sacolas como sacos de lixo, em vez de jogá-las nos rios para sufocar peixes e aves de propósito. Com o fim delas, precisarei comprar sacos de lixo - que acredito ser muito mais poluentes do que sacolas. E onde os comprarei? No Pão de Açúcar, claro.
Ainda assim, dirá você, a preocupação da rede de supermercados é justa, afinal, está retirando milhões de sacolas plásticas do mercado, não é?
Pois é, insistente leitor (a), volte ao início do texto e repare a última palavra do terceiro parágrafo.
Ela não está lá à toa. Ela alerta para as letras miúdas do contrato: não haverá mais distribuição gratuita de sacolas plásticas. Se você as quiser, é só pagar! Pagar por uma coisa que sempre foi de graça. Pagar por uma coisa que o Pão de Açúcar diz que polui, que é ruim para o meio ambiente.
Poluir é feio, mas se der lucro não tem problema!
Mestre em Administração pela PUC-RJ; Pós Graduado em TI pela FGV-RJ; Bacharel em Comunicação Social pela UFRJ.
Mais de Rodolfo Araújo AQUI
0 Comentários:
Postar um comentário