Dando continuidade às considerações sobre um possível
“ano difícil” pela frente, vamos ver algumas estratégias financeiras defensivas
que merecem ser analisadas e, quem sabe, adotadas. Uma coisa interessante sobre
estratégias financeiras defensivas é que, com raras exceções, “mal não vão
fazer”. Se as previsões mais pessimistas sobre o ano que vem estiverem
completamente furadas e tivermos mais um ano de crescimento e euforia
econômica, o pior que pode acontecer (ressaltando novamente “com raras
exceções”) é ter vivido o ano de forma menos intensa, mas com uma situação mais
equilibrada no final.
1 – “Quem não deve não teme”
Existem poucos exercícios de futilidade e perda de
tempo maiores do que pensar em investimentos e retornos quando se está
endividado. Empresas se endividam e pensam em retorno, mas usam o dinheiro
emprestado (ou pelo menos deveriam usar) para “alavancar” seus resultados – ou
seja, elas tomam dinheiro emprestado a um custo “X” para investir em seu
negócio que traz um retorno maior que “X”.
Estão, literalmente, “ganhando com o
dinheiro dos outros”. Mas raramente uma pessoa física consegue tomar dinheiro
emprestado e, de alguma forma, se beneficiar da alavancagem. Pessoas físicas
usualmente usam crédito para o consumo, e não para gerar algum retorno que seja
superior ao custo desse crédito.
O primeiro passo de uma postura financeiramente
defensiva é parar, imediatamente, de fazer dívidas e adotar uma postura de
viver conforme os meios permitem. É importante notar que não estamos falando de
um problema financeiro, mas sim comportamental e disciplinar, que afeta
diretamente a vida financeira.
2 – “Espere o melhor, mas prepare-se para o pior”
Quem consegue passar pela primeira (e mais difícil)
etapa, que é parar de se endividar, deve começar a se preocupar em ter uma
reserva financeira liquida e de fácil acesso para situações emergenciais, como
a perda repentina do emprego.
Hoje, muitos brasileiros têm patrimônio zero ou
negativo, por conta do endividamento. Eliminar o endividamento é fundamental para
que se possa pensar em começar a constituir uma reserva. É importante aqui
criar uma regra e ser rígido com ela. Normalmente recomenda-se às pessoas que
procurem guardar algo entre 10% a 15% de suas rendas mensais, mas, na iminência
de cenários ruins, quanto maior o percentual, melhor.
3 – Investindo defensivamente
Quem tem dinheiro sobrando (e investido) deve, mais do
que nunca, ficar atento a algumas regras básicas do gerenciamento de riscos.
Nosso povo tem algumas coisas engraçadas… Se eu sair por aí dizendo que vou
pegar todo o meu dinheiro e investir tudo em uma única empresa, comprando ações
dela na bolsa de valores, é capaz de mandarem me internar num hospício. Mas se
eu disser que vou comprar um único imóvel para alugar e receber essa renda de aluguel,
muita gente vai achar a decisão mais sábia e sensata do mundo…
Bem, novamente não estamos falando de problemas
financeiros, e sim de valores pessoais, visões, percepções e crenças. Investir
defensivamente exige que adotemos uma “política de risco” para nossas decisões,
e um grande desafio é estabelecer essa política de riscos de uma forma coerente
e objetiva, sem deixar que nossas emoções e nossas percepções nos traiam.
O procedimento mais básico (e mais eficaz) de uma
política de gestão de riscos é a diversificação. Diversificar os investimentos
entre categorias (renda fixa e renda variável) e entre emissores (títulos
públicos e privados, no caso de renda fixa, e diferentes empresas e segmentos,
no caso de renda variável). Em situações de incerteza, é comum as pessoas darem
maior “peso” em suas carteiras de investimento a títulos de renda fixa emitidos
por governos e comprarem ações de empresas de setores mais “tradicionais” e com
reputação de serem boas pagadoras de dividendos. É uma boa prática para o
investidor não profissional cuja maior preocupação é a defesa do patrimônio.
4 – Tristeza de uns, alegria de outros…
Reduzir o consumo, poupar dinheiro e se preocupar em
investir de forma conservadora não é a coisa mais agradável de se fazer. Aliás,
é algo bastante chato… por isso vamos tentar “fechar” nosso pacote de
estratégias defensivas com algo mais divertido e animado, onde exercitaremos
nossa imaginação e nossa criatividade.
Vamos começar a traçar cenários e imaginar que, no ano
que vem, tudo dê errado e a economia vá para o buraco de vez. Como poderíamos
ganhar com isso? Reclamar e se lamuriar nunca foi uma estratégia muito
interessante para tentar gerar riqueza,por isso minha proposta é fazer um
exercício mental para tentar enxergar onde estariam as oportunidades caso o
cenário ruim vire realidade. Quais seriam os negócios “contra cíclicos” que
poderiam gerar riqueza quando a economia vai mal? Ponha seu cérebro para
funcionar e descubra!
Afinal, não devemos esquecer que grandes fortunas e
grandes oportunidades surgem nas épocas de crises. E também não devemos
esquecer que, para explorar adequadamente as grandes oportunidades, é bom estar
com a vida financeira bem resolvida e equilibrada, por isso não se esqueça das
estratégias anteriores!
Texto originalmente publicado em EXAME
André
Massaro
Administrador de empresas pós-graduado em economia.
Já foi executivo financeiro, consultor e investidor profissional.
Administrador de empresas pós-graduado em economia.
Já foi executivo financeiro, consultor e investidor profissional.
Mais de André Massaro AQUI
0 Comentários:
Postar um comentário