Nos últimos meses, é raro passar uma semana sem que eu receba um convite para
palestrar em conferências no exterior sobre investimentos no Brasil. Tenho feito
também muitas reuniões de consultoria com estrangeiros, presidentes e diretores
de multinacionais, visitando nosso país para conhecer melhor sua economia.
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Após duas décadas apresentando a economia brasileira a investidores locais e estrangeiros, pensei que nada mais me surpreenderia. Engano meu.
Nos anos 90 e início da década passada, perguntas em relação ao Brasil eram sobre problemas e riscos. Ao longo deste período, a análise aprofundada de casos de crises financeiras em muitos países treinou-me a identificar sintomas e causas que levam a crises econômicas, mais ou menos como um médico faz um diagnóstico.
Eu nem imaginava que um dia iria antecipar crises nos EUA, Europa e Japão – as ex economias modelos – e suas consequências. Imaginava, ainda menos, que altos executivos de empresas de lá me procurariam para entender crises econômicas e impactos nos seus negócios. Ao contrário de nós brasileiros, forjados em crises nos anos 80 e 90, os ricos não as enfrentavam há décadas, o que despreparou seus executivos.
Outra surpresa, a imensa maioria das perguntas dos estrangeiros, agora foca em participar da emergência brasileira e não mais em quais problemas o Brasil ainda tem.
O ganho de importância do Brasil e a consequente mudança de postura da comunidade empresarial global em relação a nós já aconteciam há anos, mas se aceleraram após a crise financeira global de 2008.
Nos últimos três anos, investimentos produtivos de empresas estrangeiras no país – IED no jargão dos economistas – triplicaram, levando o país de 14º a 3º receptor global, atrás apenas da China e EUA.
A imagem do país entre os estrangeiros mudou. Entre nós mesmos, ainda não.
As recentes reclamações da presidente Dilma em relação ao “tsunami financeiro” vindo dos países ricos, e do ministro Guido Mantega quanto à Guerra Cambial desconsideram a nova ordem econômica global.
Em
2010, em meu artigo Guerra!, já alertava que forte emissão
monetária e enfraquecimento das moedas dos países ricos, e ainda um
redirecionamento do crescimento chinês para mais consumo local – também
anunciado esta semana – eram inevitáveis.
Não significa que o Brasil não possa e não deva enfrentar o novo quadro. Porém, para ter sucesso, é preciso compreender este quadro, abandonar sucessivas medidas de controles de capitais, que só enxugam gelo, e lidar com o cerne do problema brasileiro de competitividade: o excesso de gasto público.
Se o governo gastar menos, tomar menos dinheiro emprestado, as taxas de juros baixarão mais, atraindo menos dólares e reduzindo a apreciação do Real. Os impostos podem cair e investimentos em infraestrutura crescer, melhorando a competitividade.
Enfim, os estrangeiros enxergam o Brasil como potência econômica, já nosso próprio governo, ao invés de tomar as rédeas da situação, culpa outros países pelos males que nos afligem e por defender seus próprios interesses e necessidades.
Não significa que o Brasil não possa e não deva enfrentar o novo quadro. Porém, para ter sucesso, é preciso compreender este quadro, abandonar sucessivas medidas de controles de capitais, que só enxugam gelo, e lidar com o cerne do problema brasileiro de competitividade: o excesso de gasto público.
Se o governo gastar menos, tomar menos dinheiro emprestado, as taxas de juros baixarão mais, atraindo menos dólares e reduzindo a apreciação do Real. Os impostos podem cair e investimentos em infraestrutura crescer, melhorando a competitividade.
Enfim, os estrangeiros enxergam o Brasil como potência econômica, já nosso próprio governo, ao invés de tomar as rédeas da situação, culpa outros países pelos males que nos afligem e por defender seus próprios interesses e necessidades.
Texto publicado originalmente em Revista IstoÉ de 09/03/2012
Formado pela Universidade de São
Paulo, com pós graduação pela ESSEC de Paris, o economista Ricardo Amorim foi um
dos poucos que anteciparam a crise elétrica brasileira de 2001, a crise
imobiliária americana de 2008, a crise européia de 2010 e suas consequências.
Mais de Ricardo Amorim AQUI
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