Realmente estamos vivendo uma época paradoxal. Ainda
me lembro (e olha que não faz tanto tempo assim) quando diziam que “quando os
EUA dão um espirro, o Brasil pega uma pneumonia”. O pessoal do mercado
financeiro (em especial a turma da bolsa) costumava se referir aos EUA como “a
matriz”. Horas antes da abertura dos mercados no Brasil todo mundo se
perguntava como estavam os mercados futuros na “matriz”, se referindo à bolsa
de Chicago. Era um claro indicador de como ia ser a abertura dos mercados por
aqui. Nosso mercado parecia simplesmente se limitar a repetir passivamente o
que acontecia lá fora.
O termo “matriz” ainda é usado como apelido carinhoso
para os EUA, mas vem perdendo um pouco o sentido. O mundo está tão mudado que
já não se sabe mais quem é a matriz de quem. Um extraterrestre que chegasse
agora ao planeta Terra poderia achar que a matriz do mundo é o Brasil, afinal,
aqui o clima é de absoluta pujança e euforia, enquanto economias tradicionais
como EUA, Europa e Japão caminham celeremente rumo ao abismo. Os EUA estão
morrendo de pneumonia e nós ainda sequer espirramos…
Mas esse extraterrestre certamente ficaria intrigado
se analisasse o Brasil mais a fundo. Afinal de contas, o Brasil é o 126º
colocado no ranking de facilidade de negócios do Banco Mundial (que tem 183
países). Onde está a base de toda essa euforia? Nosso visitante do espaço
ficaria ainda mais intrigado se conversasse com algumas pessoas da classe média
brasileira. Ele perceberia que existem dois tipos de classe média: de um lado
uma classe média “nova”, cria dessa euforia econômica recente, extremamente
animada e otimista, gastando adoidado e se sentindo milionária, pois agora pode
“viajar de avião pagando em dez vezes no cartão”… e de outro lado uma classe
média “tradicional” que tem uma sensação oposta, de que seu padrão de vida está
caindo e que seu poder de compra está derretendo.
O Brasil não é e nunca foi um país “fácil” para se
fazer negócios, e nossa posição no ranking deixa isso muito claro.
Circunstâncias econômicas absolutamente especiais e incomuns estão fazendo com
que o Brasil (assim como alguns outros países emergentes) esteja imune à maré
de negatividade que vem de fora, mas nada garante que a situação não possa
mudar (para pior) em 2012. Pode ser também que mude para melhor, mas… nas
atuais circunstâncias, uma deterioração da situação parece ser o caminho de
menor resistência.
Uma coisa que chama muito a atenção hoje em dia é a
situação do emprego. Estamos numa situação de praticamente “pleno emprego”, o
que também é algo historicamente incomum para nós. O desemprego sempre foi uma
fonte de angústia e um fantasma que rondava os brasileiros, mas agora não mais.
Aliás, a facilidade com que um profissional consegue arrumar um emprego hoje em
dia (já virou clichê entre os empresários falar em “apagão da mão de obra”)
certamente é algo que está contribuindo para o excessivo endividamento do
brasileiro, que se sente seguro com a facilidade de conseguir um novo emprego
caso perca o atual e por isso “manda bala” no consumo e nas dívidas.
Sei que muitos virão com aquela conversa de “ah, mas o
endividamento do brasileiro ainda é baixo em relação à média dos povos das
economias desenvolvidas” (argumento tecnicamente correto, mas que
convenientemente “esquece” o altíssimo custo das nossas dívidas), mas o fato é
que o brasileiro médio está excessivamente alavancado e, se houver alguma coisa
(ainda que remota) que faça a situação do emprego piorar, pode ser o início de
uma reação em cadeia. Afinal de contas, se as pessoas começarem a perder seus
empregos (estando cheias de dívidas) e não conseguirem rapidamente outra fonte
de renda para dar conta de seus compromissos financeiros, o que vocês acham que
vai acontecer?
Algumas luzes amarelas andaram acendendo nos últimos
dias, como divulgações recentes de dados econômicos do Brasil que indicam uma
desaceleração econômica. Pode ser um indício de que nossa situação vai começar
a se deteriorar? Não sei responder (prever o futuro não é uma das minhas
especialidades…), mas sinto que o cenário pede que passemos a adotar uma
postura mais defensiva com relação ao nosso dinheiro e à nossa situação
financeira.
No próximo artigo, veremos algumas estratégias que
podem ser adotadas para que não sejamos pegos “de calças arriadas” caso algo
ruim aconteça no ano que vem. Até lá!
André
Massaro
Administrador de empresas pós-graduado em economia.
Já foi executivo financeiro, consultor e investidor profissional.
Administrador de empresas pós-graduado em economia.
Já foi executivo financeiro, consultor e investidor profissional.
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