Numa época de culto à juventude como a que vivemos, é
sempre um grande alívio saber que o pessoal do “clube da meia idade” (aliás,
estou esperando minha carteirinha de sócio chegar pelo correio…) ainda tem seu
espaço.
Em 2010, um estudo elaborado pelo
centro de pesquisas sobre aposentadoria do Boston College e publicado pelo
Brookings Institution de Washington, chamado “What is the age of reason?” (“Qual a idade da razão?” em
tradução livre) procurou relacionar evidências de declínio da capacidade
cognitiva de indivíduos à medida que envelhecem com suas decisões financeiras.
Conforme esperado, o estudo demonstrou que pessoas
mais velhas acabam ficando, de certa forma, em desvantagem quando se trata de
assuntos financeiros. Finanças não é exatamente um assunto fácil para a maioria
das pessoas e a queda na capacidade cognitiva associada ao envelhecimento não
ajudam em nada. Inclusive os autores do estudo propõem, ao final, uma série de
medidas a serem adotadas pelo governo ou autoridades reguladoras com o objetivo
de proteger, de alguma forma, pessoas idosas que têm dificuldade em lidar
adequadamente com suas finanças.
Mas o estudo acabou chegando a outra conclusão ainda
mais interessante: analisando dados sobre o custo de transações financeiras
efetuadas por pessoas de diversas idades, os pesquisadores observaram que as
melhores decisões financeiras, baseadas no custo das transações, eram tomadas
por aqueles indivíduos na faixa de quarenta e cinquenta anos.
O estudo levanta a hipótese de que isso acontece
porque, nessa faixa etária, ocorre um equilíbrio ideal entre a “inteligência
fluida” (que está mais presente quando ainda temos alta capacidade cognitiva) e
a “inteligência cristalizada” (que vem do acumulo de experiência e
conhecimento).
Ainda segundo os pesquisadores, a idade média onde as
decisões financeiras estão em seu nível “ótimo” é de 53,3 anos.
Indivíduos idosos tomam decisões financeiras piores,
pois com a queda na capacidade cognitiva, muitas vezes têm dificuldade em
entender os detalhes e as “pegadinhas” das transações financeiras que estão
realizando. Já os mais jovens acabam tomando decisões financeiras igualmente
ruins, mas por inexperiência. O estudo não foca muito nos mais jovens, mas
podemos imaginar que algumas outras características comumente associadas à
juventude, como a “afobação” e o excesso de confiança em si mesmo tenham seu
papel nessa performance ruim.
O mundo tem sido particularmente impiedoso com o
pessoal da meia idade. Em filmes, novelas, programas e mesmo comerciais de
televisão as pessoas que estão na meia idade são retratadas como imaturas,
inseguras, complexadas e sempre correndo desesperadamente atrás da juventude
perdida. Termos pejorativos como “idade do lobo”, “tiozinho”, “tiozão” e coisas
do gênero são sempre associados à turma que está enfrentando os desafios da
meia idade.
Mas quando se trata de finanças… consulte sempre um
tiozinho! Aqui nós ainda estamos em vantagem! E desconfie de quem não tiver
pelo menos um fio de cabelo branco na cabeça…
André Massaro
Administrador de empresas pós-graduado em economia.
Já foi executivo financeiro, consultor e investidor profissional.
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