Acho que nunca aprendi tanto na vida quanto nestes
últimos anos em que me envolvi com finanças pessoais. Quando resolvi entrar
nesse mercado, devo confessar que eu tinha uma postura bastante presunçosa. Eu
dizia para mim mesmo “com a experiência que eu tenho em finanças corporativas e
mercados de capitais, mexer com finanças pessoais vai ser moleza”.
Hoje, com alguns anos de experiência nesse segmento,
eu posso ver com clareza o quanto eu estava errado. Minha curva de aprendizado
foi íngreme e tortuosa, para dizer o mínimo. Isso que chamamos genericamente de
“finanças pessoais” é um conjunto de fatores do qual o elemento “finanças”,
justamente aquele que eu tanto me gabava de dominar, talvez seja o menos
importante. Componentes psíquicos, emocionais e comportamentais têm um papel
decisivo nessa equação. Não há receita de bolo, não há solução de tamanho
único, cada pessoa percebe o dinheiro de forma diferente e age de forma
diferente. Raramente, aquilo que é melhor de um ponto de vista racional e
matemático é o melhor “para nós”.
Acreditem, entender sobre finanças é fácil. Qualquer
pessoa com uma dose de boa vontade e conhecimentos rudimentares de matemática e
economia consegue ir bem longe. Difícil mesmo (e esse é o maior desafio do
educador financeiro ou do especialista em finanças pessoais) é conseguir
persuadir as pessoas a se interessarem mais pela gestão de suas próprias
finanças e a tomarem decisões mais racionais com seu próprio dinheiro. Muita
gente tem verdadeira repulsa pelo assunto “finanças” e prefere ter uma dor de
barriga a ter que fazer uma análise do próprio extrato bancário.
Em um de meus posts
anteriores (“A vingança dos tiozinhos”, que você pode ler clicando aqui), apresentei
uma pesquisa feita nos EUA em 2010, que procura relacionar os efeitos do
envelhecimento com as decisões financeiras. No final do texto, quando os
autores propõem algumas ideias para resolver o problema que a pesquisa
identificou, uma informação chama muito a atenção. Os autores falam que
aumentar a quantidade de informações disponíveis sobre produtos financeiros
poderia ajudar as pessoas a tomarem melhores decisões, mas eles mesmos mostram
seu ceticismo quanto a esse tipo de medida quando mencionam outra pesquisa (que
não consegui achar, mas gostaria muito de ler na íntegra), que traz uma
informação no mínimo perturbadora.
Nos EUA, é muito popular um tipo de previdência
privada conhecido como 401k, onde o empregado faz depósitos regulares em uma
conta (própria) e, conforme certas condições, o empregador também deposita na
mesma conta um percentual daquilo que o empregado depositou (eles chamam isso
de match). Conforme a empresa e
o tempo de casa do funcionário, esse percentual pode variar. Apenas para dar um
exemplo, a Starbucks deposita, para seus funcionários com mais de dez anos de
casa, 150% daquilo que eles mesmos depositam (limitado até 4% do salário, senão
seria muita moleza). Estamos falando de dinheiro DE GRAÇA para o funcionário.
Quanto mais ele depositar (numa conta que já é dele mesmo), mais ele ganha do
seu empregador.
Voltando à pesquisa, a um grupo de funcionários que
fazia depósitos mínimos em suas contas foi feita a seguinte oferta: eles
ganhariam, cada um, US$ 50 para ler um folheto simples com as regras do 401k e
uma explicação (igualmente simples) do quanto eles ganhariam tirando proveito
daquilo que o empregador estaria disposto a depositar para fazer o match.
O objetivo da pesquisa era ver até que ponto a
informação financeira faria alguma diferença nas decisões daquelas pessoas
(ainda que elas fossem pagas para ter a informação – quando supõe-se que as
pessoas deveriam é PAGAR por ela…), na presunção de que elas não depositavam
valores maiores por não conhecerem as regras e as vantagens que poderiam ter.
Resultado do experimento? Bem… basicamente, a conclusão do estudo é que as
pessoas não se sensibilizaram pela explicação e continuaram fazendo
contribuições mínimas para suas contas, deixando o dinheiro dado “de mão
beijada” por seus empregadores em cima da mesa…
Esse tipo de pesquisa mostra as limitações da educação
financeira. De nada adiantam informações precisas, bons argumentos lógicos e
uma técnica refinada, se as pessoas não forem adequadamente motivadas a fazerem
algo pelas suas próprias vidas financeiras. O verdadeiro papel do educador
financeiro não é simplesmente ensinar às pessoas a lidarem com suas finanças,
mas fazer com que elas queiram lidar. E isso não é uma habilidade financeira, é
uma habilidade humana.
André
Massaro
Administrador de empresas pós-graduado em economia.
Já foi executivo financeiro, consultor e investidor profissional.
Administrador de empresas pós-graduado em economia.
Já foi executivo financeiro, consultor e investidor profissional.
É coachfinanceiro e instrutor-sênior da MoneyFit.
Autor dos livros “MoneyFit” e “Por dentro da bolsa de valores” (Matrix Editora)
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