Segundo ensinam os princípios da sinergia, toda vez que duas atividades têm processos em comum, agrupá-las dentro de uma mesma estrutura pode trazer benefícios para ambas – na maioria das vezes através de ganhos em escala.
Assim ocorre, por exemplo, com uma transportadora e um armazém que, juntos, podem oferecer um conjunto maior de serviços com custos competitivos. Empresas que competem num mesmo segmento muitas vezes encontram, também, sinergias em algumas de suas operações justificando, assim, uma fusão ou aquisição. As empresas farmacêuticas são ótimos exemplos aqui.
Mas se essa união de esforços ocorre de forma positiva com soluções, o mesmo não se pode dizer com relação a problemas. Ao contrário, quando se tenta juntar dois problemas para resolver de uma só vez, o resultado quase sempre é um problema maior do que a soma dos dois anteriores. É o que chamo de Sinergia de Problemas.
Imagine que uma empresa fabrique papel e forneça para uma grande editora. Por questões comerciais este fabricante também anuncia nas publicações do grupo, em páginas pré-definidas de revistas específicas. E os custos de veiculação são abatidos pela editora diretamente das faturas relativas ao papel comprado.
Pois bem, um belo dia o fabricante precisa que a editora antecipe-lhe uma das duplicatas e, como de praxe, isso é feito através de um desconto financeiro. A operação é realizada, mas posteriormente há uma discordância com relação à taxa de desconto praticada. Com a discordância, o fabricante não paga os anúncios na revista. Sem o pagamento, a editora não aceita mais anúncios.
Numa outra hipótese, imagine que o fabricante entenda que seus anúncios não estão sendo veiculados com a frequência combinada e/ou nos locais previstos. Mas, ao mesmo tempo, ele está lançando novos produtos e precisa alterar seus anúncios. Mais uma vez, o fabricante prefere resolver os dois problemas de uma vez. Mas e se um der errado?
Olhando o assunto de fora, vemos a empresa tentando embutir dois problemas dentro da mesma solução. Quando você trata-os isoladamente, se um dá errado você tem um revés. Quando junta-os, se um dá errado você tem dois revéses.
Certamente há situações onde resolver dois ou três problemas juntos funciona maravilhosamente bem. Na maioria das vezes isso ocorre quando os assuntos têm alguma relação, ou partem da mesma divisão de uma companhia.
Mas, como no nosso exemplo, quando o departamento de Marketing e o Financeiro embolam suas funções, um pequeno desentendimento pode transformar-se numa bola de neve dentro da companhia.
Deste exemplo do qual fui testemunha, tirei duas importantes lições para prevenir Sinergia de Problemas:
1. Quando for resolver dois problemas de uma vez só, tente imaginar o que pode acontecer em cada um dos casos se a solução der errado. Será que vai travar ambos e você terá algo pior para resolver depois?
2. Com relação aos “donos” dos problemas: será que um deles não está querendo passar o seu pepino adiante? Livrar-se da batata quente?
Muitas vezes nem paramos para nos fazer essas perguntas porque as respostas parecem óbvias. Assim como parece óbvio pagar uma conta de Marketing através de um desconto no Contas e Receber. De fato tudo é muito óbvio – até que dê errado.
Texto de Rodolfo Araújo (twitter.com/raraujo28)
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