Sob a ótica do público, o Wikileaks é considerado hoje um dos maiores símbolos de um mundo clamando por mudança e de transparência de informações. Com base em exposição completa, espera-se que os segredos das superpotências venham à tona trazendo consigo planos que beiram o macabro para fortalecer os seus poderios em detrimento da desgraça alheia.
Com esse discurso recheado de maniqueísmos, o fundador do Wikileaks, Julian Assange, praticamente atingiu o status de herói internacional. Mas isso procede?
Quando se prega a informação 100% livre e transparente a todos, há que se considerar também que não são apenas os cidadãos “de bem”, por assim dizer, que terão acesso a ela. A mesma informação que pode eclodir movimentos populares legítimos pelo planeta pode também auxiliar terroristas em estratégias muito pouco heróicas. Como?
Em dezembro do ano passado, o Wikileaks divulgou um documento secreto da CIA listando dúzias de localidades consideradas mais vulneráveis a ataques terroristas, tanto pela alta concentração de pessoas quanto pela carência de esforços de defesa. Um prato inegavelmente cheio para organizações como a Al Qaeda, citando apenas a mais famosa.
Logo na sequência, entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, sabe quais países apresentaram maior densidade de buscas ao Wikileaks em todo o mundo, de acordo com o “Google Insights for Search”? Moçambique, Quênia, Uganda, Líbano, Tanzânia, Albânia, Azerbaijão, Sri Lanka, Ilhas Maurício e Etiópia. Grande parte desses países, diga-se de passagem, é considerada reduto histórico de organizações terroristas.
Quando se despe governos, empresas e cidadãos de todos os seus segredos, é importante entender que isso nem sempre será benéfico para a sociedade como um todo e que os males poderão ser traduzidos em verdadeiros genocídios viabilizados pela principal arma de qualquer terrorista: a informação.
A informação 100% transparente vale, então, a pena?
O livre acesso à informação, verdade seja dita, tem trazido inegáveis avanços a sociedades por todo o globo – e muito realmente se deve ao Wikileaks. Mas é fundamental não sermos ingênuos e entendermos que, como toda moeda, há dois lados envolvidos – e um deles acabará servindo a objetivos muito mais escusos do que imaginamos, podendo custar milhões de vidas de inocentes.
A pergunta que fica é: os benefícios superam os riscos de se nutrir células terroristas de informações detalhadas sobre alvos ideais?
Agora, a responsabilidade por esta decisão não está apenas nas mãos de governos, tradicionalmente oblíquos na representação da vontade popular. Quem define se a relação “custo x benefício” da transparência plena de informação é válido somos nós que, na coletividade, formamos a opinião pública.
E essa definição é dada a cada vez que, cientes dos benefícios e riscos, proferimos o nosso julgamento individual ao elogiar ou criticar organizações como o Wikileaks.
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