Diariamente quando chegava em casa, após um dia de intenso trabalho, aquele executivo encontrava o filho de 9 anos concentrado em sua “fazenda virtual”, plantando sementes imaginárias, alimentando criações de cavalos virtuais ou ainda fertilizando plantações de amigos que nunca conheceu. Preocupado com o desenvolvimento educativo do menino, decidiu reservar um tempo nobre em sua atribulada rotina para conversar com ele.
A conversa foi bem franca e objetiva, pois em outras oportunidades percebeu que um diálogo mais demorado não era eficaz devido a atenção dispersiva daquele jovem. Após uma breve exposição de argumentos sobre os efeitos negativos de se gastar tanto tempo naquele jogo, apresentando como alternativa a possibilidade de visitar uma fazenda de verdade, o jovem interrompeu o pai.
O menino argumentou que não poderia deixar a “fazenda virtual” abandonada, pois ela dependia das decisões que tomava diariamente. Explicou que para que sua propriedade evoluísse com sucesso, precisava fazer um bom “planejamento estratégico” e corrigir etapas do plano diariamente. Além disso comentou que havia estabelecido diversas “parcerias comerciais” com seus vizinhos virtuais para que eles fertilizassem suas plantações em troca de presentes enviados constantemente.
Impressionado e também assustado com a precocidade nos argumentos de seu filho, perguntou onde ele havia escutado aqueles termos que são muito comuns no mundo corporativo. O garoto respondeu que ouviu do próprio executivo quando ele voltou de um curso de planejamento estratégico que realizou numa universidade famosa e também em uma reunião de colegas da empresa na sua casa. Aproveitou para dizer que sempre gosta de ver a dedicação intensa que seu pai dá ao cumprimento deste planejamento da empresa.
Perplexo, mas tentando ainda um último argumento que pudesse levar seu filho a uma conexão com o “mundo real”, disse que a situação era bem diferente, afinal ele dedicava muito tempo a sua empresa porque pessoas dependiam dos resultados reais.
A resposta foi direta:
- Pai, eu sei que minha fazenda não é uma empresa de verdade! Eu tenho só 9 anos. Ninguém vai deixar eu administrar uma fazenda de verdade.
Ele ainda completou:
- Aceito visitar uma fazenda real, mas somente depois que a minha fazenda estiver no nível 45. O pai soube depois que se tratava de um nível do jogo em que o jovem considerava mais adequado para fazer comparações.
Este acontecimento é baseado em fatos reais e já não é incomum. A cada instante somos surpreendidos por situações que demonstram a precocidade dos jovens.
O adulto de hoje, que precisou fazer um curso de pós-graduação para aprender “planejamento estratégico”, não pode ficar omisso diante deste cenário. Não é mais o tempo de se surpreender por um menino estar aprendendo a fazer “planejamento estratégico” com 9 anos de idade.
Também não se pode cair na armadilha de achar que ele é um “super-dotado”, pois não é!
Diante de tantos estímulos, informações e facilidades tecnológicas, estes jovens, conhecidos como geração Y e Z, estão criando estilos de vida com ritmos muito diferentes e buscam se preparar para o ambiente hiper-competitivo que irão enfrentar quando chegarem a sua vida adulta.
O grande dilema dos dias atuais é que, ao invés de buscar uma rápida adaptação aos novos comportamentos e as novas ferramentas, ainda vemos pessoas que resistem ou simplesmente ignoram estes movimentos.
Além disto, não é difícil encontrar aqueles que, munidos de uma pretensiosa atitude, procuram meios de barrar este tipo de comportamento, pressionando os jovens em processos improdutivos ou bloqueando o acesso as novas tecnologias em tudo que tenham influência. Basta ver como ainda é recorrente o bloqueio do uso de redes sociais em empresas, escolas e órgãos públicos.
Como resultado desta omissão, os adultos de hoje interferem muito pouco na construção da nova realidade e perdem a oportunidade de utilizarem suas próprias experiências como referenciais educativos, tão necessários para as novas gerações.
André Malraux (escritor francês -1901-1976) disse uma frase muito significativa:
“A Juventude é uma religião a que todos acabam se convertendo”
Chegou o tempo das novas gerações, você pode escolher entre ignorar a realidade e ver passar este fenômeno ou assumir a própria juventude e deixar também sua marca neste novo cenário.
Sidnei Oliveira
Consultor, Autor e Palestrante, expert em Conflitos de Gerações, Geração Y, desenvolvimento de Novos Talentos e Redes Sociais, tendo desenvolvido soluções em programas educacionais e comportamentais para mais de 30 mil profissionais em empresas como Vale do Rio Doce, Petrobras, Gerdau, Lojas Renner, TAM, Light, entre outras.
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