Em meio a uma aula que dei recentemente no MBA no FGV, um aluno me perguntou: Professor, como o senhor se tornou CEO? Respondi: - Virei CEO por acaso. Perplexo, o aluno queria saber de que forma tinha acontecido. Eu mesmo, apesar de ter sido promovido sem esperar, reconheço que sou uma exceção e comecei a relatar esse episódio tão marcante na minha vida.
Tudo teve início no final de 2000. Revisando as demonstrações contábeis de uma das maiores empresas de comunicação do país, com ações cotadas em Nova York, toca meu celular e era o presidente da Ernst & Young, meu chefe. Eis que ele me pergunta: - O que você está imaginando fazer da vida? Eu disse: - Estou pensando em morar em Nova York, cuidar do marketing internacional da empresa ou em ajudar as operações de Portugal que precisam de uma reestruturação. Acredito que posso agregar valor e levar minha experiência.
Naquela época, eu era multitarefa: atuava como sócio responsável pelas operações da região Norte (que compreendia ainda o Estado do Rio de Janeiro e a região Nordeste), tinha vários clientes importantes, representava a empresa na CVM, era diretor de marketing nacional. Foi então que ele me disse para ficar aqui no Brasil e disparou: - Que tal você ser o presidente da firma? Surpreso, respondi: ¬ - Eu¬? Ele rebateu: - É. Você sabe que em 1995, quando a sociedade me convidou para ser presidente, eu não queria porque não me achava preparado?
Comentei que naquele momento eu o achava o melhor candidato e não havia errado. Muito pelo contrário, estava satisfeito com a sua liderança. Essa história, inclusive, está contada no meu livro “Você Não Tem de Ceder”, Editora Campus. Aí, ele reforçou os argumentos de que eu era “O” melhor candidato, o melhor sócio para substituí-lo, porque ele precisava deixar a direção da empresa em cumprimento ao regulamento. Depois de ouvi-lo, falei: - Como você sabe, não era minha intenção ser presidente, por essa razão, não havia pensado nisso, mas me dê um tempo para refletir um pouco sobre o assunto. Passado uns três dias, retornei a ligação e disse: - Vamos seguir em frente.
Seguir em frente significou conduzir um processo de sucessão, apresentando um nome à sociedade. Nas grandes empresas de serviços profissionais, os cargos de direção são eleitos pelos pares. Foi feita a votação, não apareceu outro candidato e eu fui eleito. Foi um aprendizado muito grande para mim, embora já tivesse uma larga experiência como sócio, como responsável por uma área importante e por minha atuação internacional. Juntei essa bagagem toda e apliquei nessa nova incumbência, como presidente da firma no Brasil e, posteriormente, na América do Sul.
Fui bem sucedido, mas considero que me tornei CEO por acaso. Posso dizer que o poder literalmente caiu no meu colo. Não planejei minha vida para ser CEO e nem me preparei para isso. Não recebi nenhum coaching, nem orientação alguma para ser presidente. Usei minha intuição. Quando fui convidado pelo presidente e me sentindo capacitado para aceitar o convite, simplesmente disse sim. Meu desempenho, minhas conquistas e os erros que cometi confirmam que de fato tomei a decisão correta. Agora, o meu caso é uma exceção que justifica a regra. Como disse ao aluno do MBA, o líder precisa preparar seu sucessor.
Ele é falível, pode perder a sucessão, pode estar numa situação em que é necessária sua substituição por vários motivos. Então, ele precisa ter, pelo menos, de duas a três pessoas em condição a substituí-lo. Aí, cabe a ele fazer um hunting dessas pessoas e deixar isso por escrito. Não é incomum, por exemplo, em empresa de serviços, um consultor jurídico manter em cofre uma carta em que o atual presidente ou líder indica três pessoas na linha de sucessão.
O líder precisa preparar seu sucessor e o candidato a ser líder precisa ser preparado. Quero ressaltar que primeiro, ele deve ser informado que é um candidato à cadeira de presidente. Segundo, ser treinado para assumir a função de liderança. A grande maioria não está preparada para assumir o cargo. Então, é preciso aprimorar competências que vão fazer dele um presidente campeão.
CEO por acaso quando dá certo é uma exceção. Foi uma sorte, um acontecimento inesperado. Esse tipo de cargo, que é de extrema relevância, exige preparação prévia.
(Originalmente publicado em 29/07/2010)
TEXTO DE: Julio Sergio Cardozo - www.twitter.com/juliocardozo
RETIRADO DE: http://www.hsm.com.br/
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