Há investidores que, ao saberem nada ou quase nada sobre uma empresa ou um setor, voltam-se a Warren Buffett. À frente da empresa de investimentos Berkshire Hathaway, Buffett, de 80 anos, é o maior investidor do mundo – e um dos maiores bilionários do planeta. Pois Buffett, o grande oráculo das bolsas de valores, agora diz que as centenárias linhas férreas são, quem diria, um bom negócio.
Na carta anual a seus acionistas, distribuída há duas semanas, a Berkshire Hathaway fez louvas à sua compra no segmento ferroviário. “O ponto alto de 2010 foi nossa aquisição da Burlington Northern Santa Fe, uma compra que está funcionando até melhor do que eu esperava”, diz o texto, no qual Buffett se apresenta na primeira pessoa. “Controlar essa ferrovia aumentará o poder de ganho ‘normal’ da Berkshire em cerca de 40% antes dos impostos e em mais de 30% depois dos impostos”.
Não foi uma aquisição qualquer, decidida apenas para engordar o portfólio. A Berkshire Hathaway gastou US$ 26,5 bilhões (em torno de R$ 43 bilhões em valores atuais) para ficar com a fatia de 77,4% da Burlington (também conhecida pela sigla BNSF) que ela ainda não controlava. Buffett justificou seu entusiasmo com a transação ao dizer que o setor de logística tende a crescer com a recuperação da economia dos Estados Unidos - e porque, nesse cenário, as estradas de ferro têm vantagens competitivas em relação ao transporte feito por caminhão: não apenas o modal rodoviário tem custo maior como leva desvantagem na questão ambiental em virtude da poluição dos motores a diesel.
Warren Buffett e sua Berkshire Hathaway são notoriamente avessos a empresas de internet e tecnologia. No fim da década de 1990, o investidor começou a ser tachado de ultrapassado por não embarcar na crescente onda de investimentos e ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) de empresas da então chamada nova economia. Em 2000, a onda se confirmou como uma bolha. A bolha estourou, e Buffett, o ultrapassado, voltou a ser o visionário - e isso prestes de completar 70 anos.
Trem, sim; Facebook, não
No portfólio da Berkshire Hathaway estão empresas da economia tradicional, como American Express, Coca-Cola, Johnson & Johnson e General Electric. (Warren Buffett não foi visto, esbaforido, regateando um naco do aporte de recursos promovido pelo Facebook em janeiro). Investir em uma companhia de transporte ferroviário - setor cuja tecnologia está em uso disseminado desde o século XIX -, portanto, faz todo o sentido nesse contexto.
Houve quem considerasse a compra conservadora demais até para Buffett. Pois não só o grande investidor, farol para milhares de aplicadores mundo afora, entrou de cabeça no negócio como o fez de maneira inédita: o desembolso na BNSF foi o maior da história da Berkshire Hathaway. Antes disso, em 1998, a empresa de investimentos tinha aplicado US$16 bilhões na compra de ações da resseguradora General Re.
"Basicamente, eu acredito que este país vai se recuperar. Assim, haverá mais pessoas transportando mercadorias nos próximos 10, 20 ou 30 anos", disse Buffett à rede CNBC no fim de 2009, quando foi firmado o primeiro acordo para a aquisição. "As ferrovias vão se beneficiar disso". Dito assim, até parece fácil.
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