Você está sentado em casa em uma sexta-feira à noite.
Decidiu não sair. Vai ver um filme, ler um livro - talvez não fazer nada. E
então você fica ansioso: e se algum amigo estiver fazendo alguma coisa muito
legal? Outro cenário: você está em uma festa e mesmo assim a ansiedade chega: e
se estiver rolando uma festa melhor? Ou você nem estava pensando em nada, mas vê
no Twitter que vários conhecidos estão no mesmo lugar e, mais uma vez, a
ansiedade vem.
A
angústia de que há sempre algo mais interessante para se fazer já ganhou um
nome: fomo, sigla em inglês para fear of missing
out, ou medo de perder alguma coisa. Embora esse sentimento não seja uma
novidade, a popularização das mídiais sociais, de aplicativos baseados na
localização e o dos smartphones tornam o fomo cada vez mais
presente.
A
consciência que temos de o que as pessoas nos nossos círculos sociais estão
fazendo não tem precedentes. Se até há alguns anos sabíamos de algumas coisas
por email ou no Orkut, hoje vidas são expostas em tempo real no Facebook, no
Twitter, no Foursquare, e acessadas de qualquer lugar: não é mais necessário
estar em frente ao computador para se conectar com os amigos pela internet: as
telas dos celulares fazem isso de qualquer lugar. E isso, com todas as suas
vantagens, também traz informações demais, opções demais. Por isso pessoas, cada
vez mais, ficam olhando o Twitter enquanto estão em um bar com os amigos: pela
possibilidade de achar outra coisa para fazer, que pode nem ser melhor do que a
atual.
De
acordo um relatório divulgado no início de maio pela empresa de
publicidade e marketing JWT, 56% dos adolescentes entrevistados nos Estados
Unidos e no Reino Unido afirmaram se identificar completamente ou de alguma
forma com o fomo. Entre os jovens adultos (de 18 a 33 anos) a taxa sobe para
72%. Os entrevistados também sentem fomo quando pessoas conhecidas compram
coisas que eles não podem comprar ou descobrem um filme ou uma música antes
deles. “Fomo é a aflição, às vezes energética, às vezes aterrorizante, de que
você está perdendo alguma coisa absolutamente fantástica”, afirma no relatório
Bianca Bosker, editora de tecnologia do Huffington Post.
“Pode ser um programa de TV, uma festa, um gadget, um burrito realmente bom do
carrinho de comida.”
O
publicitário Fábio Sottomaior, de 20 anos, só descobriu a sigla depois de falar
com ÉPOCA, mas o fomo vai parte de sua vida. “Até metade do ano passado, eu
costumava acessar o Twitter na balada, porque era mais atrativo saber o que os
outros estavam fazendo”, afirma. “Eu praticamente não curtia a balada, porque
ficava me preocupando.” Sottomaior diz que mesmo quando está em casa fica
curioso. “Mas isso não pode ser considerado um ato de stalker. Eu só sinto
necessidade de saber o que meus amigos estão fazendo”, afirma. “Principalmente
quando eu vejo alguém tuitando ‘Qual é a boa de sexta?’.” Sottomaior acredita
que essa ansiedade atrapalha a sua vida. “Eu deixo de curtir minhas coisas ou de
prestar atenção em algo que poderia ser muito mais interessante”,
diz.
Dan
Ariely, professor de psicologia e economia comportamental na Duke University,
afirmou ao New York
Times que o fomo tem relação com um sentimento de arrependimento, medo de
ter feito uma decisão errada sobre como passar o tempo. Sottomaior se sente
assim. “Amigos me convidam para comemorar alguma coisa e eu sempre penso que
existe outro grupo de amigos que pode estar fazendo algo mil vezes melhor”, diz.
Só que tentar “arrumar” a decisão nem sempre dá certo: nada garante que uma
coisa é melhor que outra. “Quando eu não tinha carteira de motorista, eu sempre
pegava táxi e, muitas vezes, gastava mais com táxi do que na própria balada”,
conta. “Tudo porque eu sentia que poderia estar mais feliz em outro lugar, com
outras pessoas, aí eu chegava lá e era uma grande decepção.
Para
Caterina Fake, cofundadora do Flickr, mídias sociais são a causa e a cura do
fomo. “Fomo é um grande motivador do comportamento humano, e acredito que é
fundamental para a compreensão de softwares sociais e por que eles funcionam do
jeito que funcionam”,escreveu fake. Talvez por não sabermos usar esses
programas direito. Sherry Turkle, professora do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT) e autora do livro Alone Together, disse ao NYTque o fomo é uma consequência
de nossa relação com a tecnologia ainda ser imatura. Turkle, que era uma
otimista quando publicou, em 1995, Life on the Screen, livro sobre
as possibilidades da identidade na web, acredita que ainda temos que encontrar
formas de limitar a influência da internet nas nossas vidas - talvez desligar um
pouco o iPhone.
FONTE: BLOG DA FM CRIAÇÃO
0 Comentários:
Postar um comentário