Santelmo é um pitoresco bairro de Buenos Aires que, todo domingo, abriga uma tradicional feira de antiguidades. Além dos antiquários especializados instalados ao redor da praça central, barraquinhas negociam toda sorte de tralhas, bugingangas e quinquilharias, para todos os gostos e bolsos, em pesos, reais ou dólares.
De sifões vazios de água gasosa a contestáveis cristais Baccarat; de lápis coloridos imitando galhos a duvidosas Mont Blancs; de bijuterias ordinárias a suspeitíssimos relógios Cartier, tudo lá se compra, vende, troca ou é deixado em consignação.
Quando Niall Ferguson relembra a crise argentina do final da década de 1980, em A Ascensão do Dinheiro, um dos subprodutos citados é a rápida proliferação deste tipo de comércio. Um claro sinal de que glória e riquezas passadas não garantem o futuro - muito menos alimentam o presente.
Cristais, canetas e joias que outrora adornaram mesas, bolsos e punhos orgulhosas, agora amontoam-se em feltros puídos pelo tempo, esperando recuperar o glamour há muito perdido.
Um melancólico cemitério de lembranças que precisaram dar lugar à realidade, infalível algoz de todos os sonhos.
A lição extrapola, porém, o ambiente bolorento dos mercados de pulgas: a joia de hoje valerá não mais que seu peso amanhã. O que hoje adorna, amanhã entulha. O que hoje você financia, amanhã você doa.
Vi muitos anéis. Mas muito mais dedos foram vistos. A vida é assim. Você não leva nada e poucas coisas te acompanham por instantes extras.
Escolha-as bem!
Mestre em Administração pela PUC-RJ; Pós Graduado em TI pela FGV-RJ; Bacharel em Comunicação Social pela UFRJ.
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1 Comentários:
Também não é assim! As coisas, por assim dizer, caminham também! É um privilégio poder encontrar-se, no seu trajeto, no caminhar das coisas!
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