Como é comum em muitos mercados, a imprensa obedece, também, às dinâmicas de
oferta e demanda, entregando ao seu público aquilo que ele deseja ter. Por isso
temos sexo e sangue na novela das oito, sexo e sangue nos telejornais e sexo e
sangue nos programas de auditório.
A mídia impressa - e sua prima mais nova, a Internet - varia um pouco mais
seus temas, adicionando elementos mais úteis e inteligentes a seu portifólio de
assuntos: além de sexo e sangue, tem também os bichinhos fofinhos, as frases de
autoajuda, a celebração do calendário semanal (ver foto) e, claro, fofocas.
A programação de uma emissora ou editora será, portanto, tão imbecil
quanto sua audiência. Só que nesta relação entre oferta e demanda, a
influência exercida de uma sobre a outra tem sido somente no sentido de piorar a
qualidade do que se transmite ou publica.
Desde que me entendo por gente, jamais vi a população boicotar
deliberadamente um veículo porque os temas abordados eram ruins. Só vi quebrarem
jornais que tentavam ir contra a maré, mantendo-se fiéis a alguns parcos
princípios editoriais. Mas sem bunda nem soco no olho, ninguém se mantém.
Recentemente, o acidental domínio das redes sociais sobre os conteúdos da
mídia vem tratando de acelerar o processo de idiotização da
audiência. Tal como crianças (menores de cinco anos) e analfabetos,
ninguém lê mais nada e a navegação apressada resume-se a ver figuras - de
preferência as que remetam àquela infância na qual o cérebro ficou
estacionado.
Então, o que dá audiência nas redes sociais hoje - e tem muita gente achando
que esta é a tendência do momento e que será assim para sempre - são as fotos de
bichinhos fofinhos, frases rasteiras de autoajuda sobre ilustrações de
artesanato de quermesse e, last but not least, torcidas organizadas
para personagens de novelas - os atuais heróis nacionais, já que estamos na
entressafra do Big Brother.
Temos, então, que mesmo os veículos especializados vem se entregando à esta
tendência, incapazes de oferecer algo melhor àquela que, antes, era uma
audiência qualificada. É por isso que revistas de negócio agora estampam bichinhos fofinhos em suas
fan pages, buscando um público que não tem a menor ideia do que
seja core business ou inovação disruptiva - o que é até bom,
considerando que suas redações, cada vez mais juniorizadas, também não sabem
escrever sobre isso.
Quando deparei-me com o descrito acima, logo pensei: "Agora só falta colocar
mulher pelada nesta revista."
Pois não falta mais! A foto seguinte, da mesma publicação, tinha uma
elaborada desculpa (Artistas tiram a roupa para mostrar o que alimenta sua alma),
mas a inegável essência. Como meu monitor não projeta ectoplasma, em vez de
almas eu vi peitos e bundas.
Se você fizer o tipo puritano e não quiser conferir a arrojada matéria,
aceite outra sugestão que encarna, certamente, o suprassumo da literatura
gerencial: Artistas americanos recriam quadros usando jujubas.
Muitos dizem que a mídia tradicional está morrendo por causa da Internet. Não
é verdade. A mídia tradicional definha junto com o Q.I. da sua audiência. As
tecnologias surgidas recentemente tinham tudo para impulsionar um salto de
maturidade nos provedores de conteúdo. Mas parece ter ocorrido o inverso,
deixando prostrado o espectador - que não é inocente neste processo -, agarrado
ao seu conteúdo de pelúcia. Fofinho e estúpido.
Mestre em Administração pela PUC-RJ; Pós Graduado em TI pela FGV-RJ; Bacharel em Comunicação Social pela UFRJ.
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