Comentando um dia com o ministro do Planejamento, o prof. João Sayad, ele dizia que o "mundo estava à deriva".
Ao ouvir isso, eu retruquei: "Mas isto já ocorre há muito tempo".
E o prof. Sayad respondeu: "De fato, só que agora tem vento".
Este diálogo permite uma interessante discussão da relação do Estado com o setor produtivo.
O mundo estar à deriva não é um problema. O problema é quando tem vento.
Traduzindo:
O mundo liberal e neoliberal, que para muitos parece estar à deriva, sem direção definida, que responde ao sabor das ondas, não é o problema.
Cada um está fazendo o que acha que é importante. Não há um Estado ou Comitê Central de Planejamento que possa orientar e coordenar os milhares de navios, barcos e veleiros mundo afora.
O problema é que quando há vento, o mundo liberal e neoliberal se desmorona e entra em pânico.
São tomadas decisões precipitadas e centradas em si, com uma total falta de liderança necessária para acalmar todo mundo.
Da crise de 2008 para cá, não tivemos um único líder capaz de acalmar a galera. Não tivemos um único intelectual, jornalista ou formador de opinião que tenha saído a público mostrando que nós éramos superiores às crises, sempre fomos.
Tivemos sim uma propaganda acirrada dos catastrofistas, das cassandras do apocalipse, muitos vindo de ex-integrantes do Estado, ministros de renome.
O mundo socialista, por sua vez, planejado por bem intencionados acadêmicos e altruístas, também não tem funcionado.
Porque age como se todo dia tivesse vento.
Tudo é importante.
Tudo tem que ser controlado até os centavos, tudo tem que ser pré-aprovado, e assim por diante.
Os barcos mal saem do porto, a não ser que tenham uma parceria público-privada.
O Estado se leva a sério demais, não tem a leveza necessária para ser criativo, errar, pisar na bola sem muitas consequências.
Funcionários públicos, que morrem de medo do Ministério Público, jamais irão assumir riscos que podem acarretar prejuízo à coisa pública. E mensaleiro, por definição, é quem prefere um salário fixo e aposentadoria garantida, sem assumir risco nenhum.
Reuniões de ministros são em conjunto de 46 ao mesmo tempo. Nenhum pode tomar uma decisão sem consultar os outros, como se espera que seja numa crise em que tem vento.
Não é o Estado, com este estilo de gestão, que terá a agilidade para tirar o lado neoliberal do seu pânico, com medidas acadêmicas ou macroprudenciais.
Ou, com recursos financeiros que mantêm os culpados nos seus pontos em bancos, Hedge Funds e orgãos reguladores que fracassaram por completo.
O próprio Governo entra em pânico e fica tão perdido como o mundo neoliberal.
Portanto, precisamos de um novo modelo, um que saiba lidar com vento, normalmente vento gerado pelo pânico de alguns sedentos por uma citação em jornal.
Em administração temos problemas parecidos.
Uma empresa vai tocando a vida, cada um fazendo a sua função, sem muita supervisão e ordens do tipo dia a dia.
Um dia tudo desmorona, o que funcionava não funciona mais, e algo precisa ser feito.
Uma intervenção vinda de fora, seja com mais dinheiro, seja com novas ideias.
Na reestruturação de uma empresa, os credores tomam conta da empresa. Normalmente, despedem os executivos incompetentes e colocam uma equipe especial para fazer o "turn around".
Existem consultorias especializadas nisto, porque um turn around precisa de conhecimento especializado.
Precisa diagnóstico rápido, execução rápida, análise de resultados rápida e uma mente focada somente nesta tarefa.
Vejamos o problema do vento na Grécia. Os "executivos" continuam os mesmos. Numa democracia nem dá para trocar, a não ser que por ética renunciassem.
A preocupação dos "executivos" focada até o último milímetro é não assumir a responsabilidade de seus erros, culpar os outros como salvação e concentrar na próxima eleição que será duríssima.
Ou seja, não vão resolver o problema nunca.
Infelizmente, não é o Estado e seus interventores, não são os acadêmicos e os discípulos de Keynes que têm o conjunto de qualificações para este tipo de tarefa chamada de turn around.
Nem a maioria dos administradores o tem.
Turn around ou reeestruturação é um campo específico e requer uma cultura específica.
Não temos no Governo Brasileiro uma equipe destas, nunca tivemos.
Nos grandes grupos de conglomerados dos anos 1980, existiam equipes assim: a Guarda Pretoriana, a turma da Central, que desciam do avião para ajudar a modificar a filial que não soubesse lidar com o vento.
Não era gente simpática, mas eram focados até resolverem o problema.
Quem mais precisa de uma equipe destas é o próprio governo, que vive acumulando problemas anos a fio sem solução.
Onde eu quero chegar é que não é o Estado que vai salvar o mundo neoliberal cada vez que tem vento.
O que precisamos é uma abordagem totalmente diferente, de equipes previamente preparadas e capacitadas para resolver crises, algo diferente do que lidar com o dia a dia.
Uma equipe que não tem interesses próprios, como manter o emprego ou não perder as eleições.
Uma equipe que entra e sai, com o único propósito de guiar o país que está à deriva por causa do vento.
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