Tenho acompanhado um curioso e preocupante movimento migratório no Rio de Janeiro, através de familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos: com a disparada nos preços dos aluguéis, muita gente está deixando a Zona Sul e indo para outras regiões da cidade - especialmente Barra da Tijuca e Recreio.
Imóveis de 70m2 estão passando de R$ 900 para R$ 2.500 em Copacabana. No Leblon, de R$ 2.000 para R$ 5.000.
Se há gente interessada e disposta a pagar estes valores, então a pergunta a ser feita é se essas pessoas podem pagar estes valores. O problema é que a resposta não virá agora, mas daqui uns meses. E, para mim, ela é NÃO.
Explico: por mais que uma nova classe média esteja surgindo - seja C, D ou E - não é ela que vai pagar aluguéis de R$ 2.500 ou R$ 5.000. Não houve ganho de poder aquisitivo dessa magnitude no país. Não é uma classe emergente; é uma classe que não existe. Quem está assumindo essas mensalidades hoje, em breve não poderá mais arcar com elas. E aí essa bolha começará a murchar.
Não à toa, recente artigo do Financial Times aconselha investidores a pular fora do Brasil antes que a bolha estoure. Para Moisés Naim, não há nada que justifique o preço dos imóveis dobrar em menos de três anos.
Mais do que isso, pergunta como num país pobre (emergente, mas pobre), o aluguel de um escritório pode ser mais caro do que Nova Iorque?
Um dos motivos, aliás, é a taxa de câmbio. Depois de descontada a inflação, o Real está 47% mais caro do que a média da última década, tornando-o a moeda mais valorizada do mundo.
Outro aspecto abordado por Naim em seu texto é a farra do crédito. Nunca antes na história deste país foi tão fácil fazer empréstimos.
Mas a facilidade guarda estreita relação com o preço. O preço da segunda taxa de juros do mundo, num país em que, na média, 20% da renda familiar está comprometida em saldar débitos.
Ainda assim, empréstimos são feitos para vender picolé em suaves prestações de quatro centavos. Por mais doze parcelas de cinquenta centavos você leva também um cachorro quente. E assim, de pouquinho em pouquinho, você torna-se escravo do seu carnê, servo da sua dívida.
Porque o que temos hoje são agiotas travestidos de varejistas, dando celulares de brinde a quem hipoteque-lhes a alma. E ao que parece, quanto mais supérfluo o bem, maiores as filas nas portas e mais famosa a celebridade envolvida na extorsão.
O problema parece, então, que não é mais se a bolha vai estourar ou não - mas quando ela vai estourar. Se será antes ou depois da Copa 2014, da Olimpíada 2016, ou do Pré-Sal 2075 ainda não dá para saber. O que dá para saber é que você estará aqui para pagar a conta.
Mestre em Administração pela PUC-RJ; Pós Graduado em TI pela FGV-RJ; Bacharel em Comunicação Social pela UFRJ.
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