Da próxima vez em que seus pais lhes falarem que eles começaram do zero, digam que eles tiveram muita sorte.
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Quando seus pais lhes contarem que na época deles tudo era muito mais difícil, peçam a eles que leiam novamente este artigo.
Quando seus pais nasceram, a população mundial era de somente 2 bilhões de habitantes.
Enquanto eles pregavam o amor livre, em vez da paternidade responsável, nasceram mais 4 bilhões de criaturas para competir com vocês. Em 2011 serão 7.
Até hoje, discutir paternidade responsável é considerado politicamente incorreto no Brasil.
Na época de seus pais, pagavam-se somente 5 a 15 dólares o barril de petróleo; agora vocês terão de pagar de 50 a 100 dólares.
Isso eles delicadamente sempre se esquecem de mencionar.
Na época de seus pais, a carga tributária era de somente 15% do PIB.
Eles podiam gastar 85% de tudo o que ganhavam, podiam viajar para a Disney com toda a família, tirar férias e trabalhar das 9 até as 17 horas.
Agora, graças à opção ou omissão deles, a carga tributária já chega a 45% do PIB e vocês poderão gastar no máximo 55% do que ganharem.
O crime organizado não paga impostos, por isso o governo só recebe 40% do PIB, mas vocês pagarão 45% do que ganham.
A sua mãe não precisava trabalhar fora porque a renda do pai dava para sustentar a família.
Hoje, em vez de cuidar da educação moral dos filhos, sua futura esposa certamente terá de trabalhar duro para ajudar no sustento da casa.
O pior é que boa parte do que ela ganhar será para pagar os impostos e as alíquotas que seus pais criaram ou deixaram criar.
A velha geração também criou esta dívida pública interna de 1 trilhão de reais que vocês terão de pagar, com juros de 19% ao ano.
Outra dívida monumental, que eles escondem a sete chaves é a previdenciária, estimada num estudo de Francisco Oliveira, do Ipea, em mais de 7 trilhões de reais, a ser pagos por vocês, jovens, nos próximos trinta anos.
Isso tudo significa que os 20 milhões de famílias cujo titular está abaixo dos 30 anos começam a vida com uma dívida pública inicial de 400.000 reais mais ou menos.
A maioria não consegue ganhar isso numa vida inteira, muito menos poupar esse valor, mas será obrigada a fazê-lo, está na Constituição.
Não confiem nesses estudos e papers feitos por pesquisadores com mais de 50 anos que pretendem se aposentar. Façam vocês os próprios estudos e projeções.
Nem confiem nem em mim que já sou aposentado. Criem um grupo de estudo na internet e calculem essa dívida vocês mesmos, se deixarem.
Para não ser acusado de exagerado, deliberadamente não incluí outra dívida, colossal nos Estados Unidos, que é a da saúde.
Os velhos gastam de oito a trinta vezes mais em saúde do que os jovens, mas poucos da velha geração, muito menos o governo, estão poupando para uma eventual doença grave ou ponte de safena.
Quem pagará por essa conta provavelmente serão vocês.
Por isso, os gastos do governo e a carga tributária aumentarão de 45% para 50% ao longo dos anos. Em nome da dívida social eles criaram uma dívida monumental.
Seus pais fazem parte ou foram vítimas da geração que assinou a Constituição de 1988.
Ou então fazem parte ou foram vítimas da escola keynesiana de intelectuais, a turma do gastem e endividem-se hoje porque "a longo prazo estaremos todos mortos". Mui amigos!
A bem da verdade, a velha geração do mundo inteiro fez o mesmo, não é um fenômeno exclusivamente brasileiro.
A velha geração americana, por exemplo, deixa dívida de 40 trilhões de dólares para a próxima geração pagar, leiam The Coming Generation Storm .
O resto do mundo deixa um estrago bem maior, leiam Who Will Pay, publicado pelo FMI.
Graças às dívidas públicas que seus pais e os "desenvolvimentistas" contraíram para "desenvolver" o Brasil, aos impostos que eles criaram para "ajudar" os outros, aos direitos que eles concederam para si, ao petróleo que eles consumiram a 100 quilômetros por hora, a vida de vocês vai ser muito, mas muito mais difícil do que a deles.
Mas isso eles não publicam, não escrevem nem contam na hora do jantar.
Stephen Kanitz
Editora Abril, Revista Veja, edição 1914, ano 38, nº 29, 20 de julho de 2005.
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