Depois de passar um dia inteiro fazendo as revisões de
um livro meu diretamente no arquivo do computador, dei por encerrada esta
delicada e cansativa tarefa. Acontece que, dois dias depois, minha querida
parceira de trabalho me liga pra dizer que houve um problema com o computador e
que havíamos perdido o arquivo revisado. Ou seja, eu teria de fazer tudo de
novo.
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De repente, meu telefone toca... Atendi! Era um amigo
muito querido, com quem sempre aprendo algo de positivo; com quem sempre me
torno uma pessoa melhor. Ao me perguntar se estava tudo bem, fui logo
respondendo: ‘não, tá tudo mal!’, e contei a ele minha aflição...
Com sua voz doce e acolhedora, ele me disse:
- Rô, solta o livro... deixa o arquivo estragado ir
embora... De nada vai adiantar você ficar presa ao que se perdeu! Desapega,
deixa ir...
E aquelas palavras me tocaram como se arrancassem,
finalmente, a pedra que estava machucando meu estômago. Respirei fundo e senti
que ele tinha razão. Em seguida, ele ainda me contou uma pequena estória.
Era sobre um Mestre e seu discípulo que caminhavam em
silêncio. Ao chegarem à beira de um rio, notaram que uma mulher gostaria de
atravessá-lo, mas não conseguia sozinha. Imediatamente, o Mestre a tomou nos
braços e a carregou até o outro lado da margem. Soltou-a e continuou sua
caminhada, tendo ao seu lado o discípulo que o acompanhava.
No final do dia, o discípulo não agüentou e falou:
- Mestre, preciso desabafar! O senhor cometeu um gesto
que contradiz as regras. Sabemos que não podemos tocar uma mulher e o senhor
não só tocou uma como a carregou até a outra margem do rio... Como poderei
confiar no senhor novamente se a regra não foi cumprida?
O Mestre, surpreso, respondeu:
- Do que você está falando?!?
E ao olhar para o semblante angustiado do discípulo,
rindo-se, lembrou em voz alta:
- Ah! Da mulher que deixei lá atrás, no rio... Você
ainda a está carregando?!?
Daí, tirei duas lições: a primeira é que as regras são
ótimas, desde que não esmaguem nosso coração. O Mestre fez o que sentiu que era
certo fazer naquele momento – ajudar alguém que precisava dele! As regras?!?
Ora... que regra pode ser mais importante que um sentimento bom?
A segunda é que, muitas vezes, assim como o discípulo,
ficamos apegados a algo que já foi, que já acabou, que já passou... e esse
‘peso morto’ vai machucando nossos pensamentos, contaminando nossos
sentimentos, envenenando nosso coração e nos induzindo a palavras e atitudes
insanas, que só nos fazem mal; que servem, sobretudo, para nos fazer patinar e
patinar sem sair do lugar... espalhando lama para todos os lados e sujando tudo
ao nosso redor!
Hoje, conversando com uma amiga, ela me contou que não
consegue parar de pensar no seu ex-namorado e que acha que nunca mais vai amar
outra pessoa como o amou. Claro que contei a ela a história acima, na tentativa
de alertá-la que o namorado ficou lá atrás, mas que se ela insistisse em
continuar carregando-o, iria se sentir cada vez mais cansada, sem forças,
triste e, principalmente, sem espaço para um novo amor.
Pois bem! Seja lá o que for – especialmente uma
relação que se acabou – solte, desapegue, deixe ir embora... Abra seu coração e
sinta sair de dentro de você as culpas, os erros, as regras não cumpridas, o
que fez sem querer fazer, e o que não fez querendo fazer... Enfim, tudo que já
não serve mais, que acabou, que já foi!
E de agora em diante, que o passado seja apenas
aprendizado; experiências que tornam você mais amadurecido, menos iludido, mais
autêntico, menos dolorido. E com seu coração esvaziado da lama que o fazia
patinar, você possa enxergar o que ‘é’ e o que poderá ‘ser’. Afinal, é
exatamente para nos lembrar desta possibilidade que o Grande Mestre nos deu um
presente que ‘separa’ o dia de ontem do dia de amanhã: a noite – prenúncio de
uma nova chance!
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Reconhecida como uma das maiores especialistas em relacionamento & comunicação do país, Rosana Braga desenvolve um trabalho considerado inspirador e eficaz, promovendo mudanças no âmbito profissional e pessoal.Mais de Rosana Braga AQUI
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